quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Intervenção do Presidente do Governo


Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, Carlos César, proferida hoje, em Ponta Delgada, na cerimónia de assinatura do “Master Agreement” entre a EDA e a Younicos:

“O Acordo que, hoje, a EDA assina com a empresa alemã Younicos é mais um passo no sentido da afirmação dos Açores como região pioneira no aproveitamento das energias renováveis e na utilização das mais modernas tecnologias disponíveis para maximizar esse aproveitamento.

Este pioneirismo tem raízes históricas: com efeito a nossa primeira central hídrica, ao tempo designada como Fábrica da Vila, data do já distante ano de 1899, resultado do labor e do empreendedorismo visionário do Engenheiro José Cordeiro, com o apoio dos então responsáveis pelos destinos da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo. O arranque da eletricidade nos Açores resultou assim da conjugação do empreendedorismo com a compreensão daquela autarquia, que naquele mesmo ano assinou o primeiro contrato para o fornecimento de energia elétrica para a iluminação pública do seu concelho.

Note-se que de 1900 a 1950, em meio século de crescimento dos consumos, as diversas centrais hídricas entretanto construídas em São Miguel foram suficientes para suportar todo o consumo de energia elétrica desta ilha. Como contraste, hoje, no seu conjunto, a energia hídrica representa apenas 4% da nossa produção de energia elétrica, resultado do enorme crescimento dos consumos e do surgimento de novas fontes de energia, com destaque para a geotermia.

Em 1980 construiu-se a central geotérmica piloto do Pico Vermelho. Hoje, em São Miguel existem duas centrais geotérmicas com uma potência global de 23 MW, que em 2011 foram responsáveis por 22% da produção de energia elétrica dos Açores. Contamos nos próximos anos, não só ampliar a Central Geotérmica do Pico Vermelho, em São Miguel, como também prosseguir com o projeto geotérmico no Pico Alto, na ilha Terceira, de forma a atingir a penetração de 35% da energia elétrica proveniente da geotermia. Repare-se que na Islândia, país pioneiro no aproveitamento daquela forma de energia, a geotermia é responsável apenas por 30% da energia elétrica produzida naquele país.

O primeiro parque eólico foi construído em Santa Maria em 1988, com uma potência de apenas 240 kW (quilowatts). Contamos ter no próximo ano instalado nos Açores uma potência de cerca de 33 MW (megawatts) o que corresponderá a cerca de 10% do total da energia elétrica produzida no arquipélago.

Na Terceira, o Parque eólico da Serra do Cume, recentemente ampliado, de Janeiro a Junho deste ano foi responsável por cerca de 15.5% da produção de energia elétrica produzida naquela ilha. Repare-se que o país com maior penetração de energia eólica na Europa é a Dinamarca, com cerca de 20% de penetração. Trata-se de um país situado no centro da Europa, em que as oscilações de tensão e frequência provocadas por este tipo de energia nas redes que o recebem são diluídas numa rede de potência quase infinita.
Nos próximos três anos teremos em funcionamento duas centrais de incineração de resíduos, uma na Terceira e outra em São Miguel que irão produzir cerca de 8% da energia elétrica dos Açores. Se adicionarmos as potencialidades dos diversos tipos de energia renováveis, e os projetos que estão a ser desenvolvidos, podemos afirmar que a curto prazo teremos a capacidade de ultrapassar os 50% de penetração de energias renováveis na produção de energia elétrica global nos Açores.

Ora, um dos problemas do aproveitamento das energias renováveis com este nível de penetração em sistemas isolados, é a necessidade de conciliarmos a produção com o consumo, ou seja, termos a capacidade de armazenar a energia renovável excedentária, geralmente à noite, para a podermos utilizar quando há maior consumo, normalmente durante o dia. Em São Miguel e na Terceira pretendemos resolver este assunto construindo duas centrais hídricas reversíveis, uma em cada ilha. Para tal precisamos acomodar no próximo Quadro Comunitária de Apoio os recursos suficientes para cofinanciar tais empreendimentos, pois a pequenez das nossas redes não liberta recursos que permitam a sua imediata viabilidade económica sem impacte sobre o preço final da energia. As hídricas reversíveis têm não só a vantagem de ser uma tecnologia bem conhecida e testada, com elevada durabilidade, como também proporcionam elevada capacidade armazenagem de energia e alguma capacidade de regulação da tensão e frequência da rede.

Uma outra forma de atenuar as oscilações da procura e da produção, especialmente provocadas na rede pelos parques eólicos é através dos designados volantes de inércia. Com o suporte do Programa Regional de Ações Inovadoras - PRAI Açores, a EDA investiu em dois volantes de inércia que se encontram atualmente a funcionar com sucesso na Graciosa e nas Flores. O funcionamento desses equipamentos tem permitido aumentar a penetração de energia eólica naquelas ilhas para níveis verdadeiramente excecionais, permitindo que no caso das Flores já tenhamos mantido a rede em funcionamento exclusivamente alimentada por fontes renováveis, eólica e hídrica. Estes volantes de inércia têm, contudo, uma capacidade de armazenagem de energia muito limitada, pelo que apenas servem para dar uma resposta às variações instantâneas da rede, não permitindo a transferência inter-horária de cargas.

As outras tecnologias de armazenagem de energia disponíveis no mercado são a utilização de baterias, de vários tipos e composição, e a utilização de reservatórios de ar comprimido em cavidades naturais de grandes dimensões e estanquicidade, o que não é o caso das cavidades existentes nos Açores, o que exclui à partida o uso desta tecnologia.
A evolução das baterias nos últimos anos tem sido imensa. As baterias têm também a vantagem de responder instantaneamente às variações da rede provocada pela intermitência das fontes renováveis de energia e da demanda. Ora, o projeto que vai ser iniciado agora na Graciosa, através da parceria EDA/Younicos, assenta exatamente no uso dessa tecnologia.

Nesse contexto de procura de soluções para a otimização do uso das energias renováveis, esta parceria tem para nós três objetivos muito importantes: demonstrar a viabilidade, técnica e económica, da utilização de baterias, de grande capacidade de armazenagem de energia, para aumentar a penetração de energia renováveis. Pretende-se com este conjunto de baterias obter uma penetração de renováveis na rede elétrica da ordem dos 70%. Atualmente a Graciosa tem uma penetração de energia renovável da ordem dos 10%, dependente apenas da energia eólica; um segundo objetivo é o de demonstrar, igualmente, a viabilidade da utilização de baterias na estabilização da rede não só devido à intermitência das fontes de energias renováveis, como também devido às oscilações da procura; e, finalmente, um último objetivo que é o de provar que nos Açores, e especialmente na Graciosa, é viável economicamente obter níveis de penetração de energias renováveis na rede elétrica da ordem dos 70% a partir da energia do vento e do sol.

No futuro, deveremos estar atentos a estes resultados e certamente tiraremos as lições adequadas para, em caso de sucesso, replicar esta experiência em outras ilhas.

Nos Açores, e ao contrário do que se passa em outras regiões, onde a energia térmica provém do carvão e do gás natural, a produção termoelétrica encontra-se limitada à queima de fuelóleo e de gasóleo. No ano passado, para um preço de venda à rede pública das renováveis de 88,4 euros por MWh (mega watt hora), só o custo médio do combustível para produzir o mesmo MWh foi de 126 euros (117 euros no caso do fuel e 198 euros no caso do gasóleo)! Este custo, este ano, já subiu cerca de 10%.

Existindo, como existem, nas nossas ilhas, diversas possibilidades de aproveitamento de recursos energéticos endógenos, com destaque para a geotermia que, em São Miguel, já chega a satisfazer mais de 42% da procura de eletricidade, mas também para a energia eólica e solar, importa, pois, encontrar as soluções técnicas que permitam integrá-las em maiores percentagens na composição da nossa produção.

O Governo dos Açores, na sua qualidade de responsável pelos licenciamentos deste tipo de instalações, cumpridas as devidas formalidades legais, irá, pois, com grande expetativa nos resultados desta iniciativa, atribuir as respetivas licenças de estabelecimento e exploração, garantindo aos seus promotores o tempo necessário para a recuperação do seu investimento e para a demonstração da sua viabilidade. Por outro lado, também a APIA está a analisar o apoio a este projeto, através da atribuição de um incentivo financeiro.

Importa, igualmente, ter presente que se, neste caso, ainda estamos a olhar apenas para o lado da oferta, procurando diminuir ao mínimo a energia com origem termoelétrica na Graciosa, poderemos vir a associar, posteriormente, ações específicas na área da procura, por forma a contribuir para uma maior utilização da eletricidade nos momentos mais adequados, quando se encontrarem disponíveis vento ou sol em abundância, e uma redução do consumo quando esses recursos não existirem ou existirem com menor intensidade.

Para isso, será de esperar o contributo de um outro projeto que se encontra em preparação para a ilha do Corvo – o Corvo Renovável – numa parceria da EDA com o MIT e outras entidades nacionais, para o qual já foi apresentada uma candidatura ao programa Proconvergência, no âmbito do qual serão aprofundada as questões e soluções que se colocam do lado da gestão da procura num sistema isolado.

Aliás, podemos mesmo dizer que há um grande potencial de sinergia entre estes dois projetos, o da Graciosa e o do Corvo, pois daquele, e dos resultados que se obtiverem na área do armazenamento em baterias, também poderemos, depois, equacionar a sua replicação no Corvo.
Há, pois, que continuar – que continuar no governo este percurso realizador e positivo que temos desenvolvido na nossa região, neste como em outros setores estratégicos.

Votos do maior êxito para esta parceria entre a EDA e a Younicos!”



GaCS

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