terça-feira, 4 de junho de 2013

Intervenção do Presidente do Governo Regional dos Açores

Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, Vasco Cordeiro, proferida hoje, em Boston, Massachusetts, na cerimónia comemorativa do Portuguese Heritage Day:

 “É com grande orgulho e sentido de história que participo hoje, enquanto Presidente do Governo dos Açores, nesta cerimónia que assinala a secular presença e herança da comunidade portuguesa no Estado de Massachusetts.

Esta homenagem constitui o justo reconhecimento público daqueles que ainda hoje contribuem com o seu mérito, o seu percurso pessoal e profissional para a edificação desta comunidade de acolhimento a que chamam também hoje casa.

Permitam-me, portanto, que comece por agradecer aos membros do Portuguese American Legislative Caucus por tão honroso convite e pela oportunidade que me dão de endereçar breves palavras em meu nome, mas também em nome do Governo dos Açores e dos Açorianos, àqueles que são hoje homenageados, às suas famílias e, de uma forma geral, à comunidade portuguesa do Estado de Massachusetts.

Neste momento solene, gostava de expressar, uma vez mais, o pesar e a solidariedade do Governo dos Açores em relação aos terríveis atos do passado dia 15 de abril que, de forma tão cobarde, foram praticados contra os cidadãos de Boston, os seus visitantes, a cidade e o Estado Massachusetts e que merecem o meu mais forte repúdio.

Todos aqueles que prezam e defendem os valores da liberdade e do respeito pela vida humana, independemente do lugar do mundo em que vivem, não podem nunca ceder perante a ignomínia do terror que alguns tentam impor a tantos outros.

A forma como Boston reagiu é um exemplo de força e da vontade dos que recusam o medo.

Como Açoriano que sou, conheço, quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto de vista histórico, a realidade do partir e o percurso individual e coletivo que muitos dos meus conterrâneos – assim como outros do país inteiro – tiveram que construir, deixando para trás a sua terra, a sua família, mas nunca a sua cultura, para poderem encontrar um novo rumo, num destino novo.

 Sei também quão importante é – perante uma decisão desta magnitude – ser-se bem acolhido. Sentir-se, no fundo, respeitado e integrado, na justa medida em que se contribui, com esforço e labor, para melhorar a comunidade de acolhimento, influir no seu desenvolvimento e crescimento económico e social.

Terra de liberdade e de fértil contributo para a fundação, defesa e edificação da democracia americana, a Commonwealth de Massachusetts tem sido também, desde o século XIX, um porto seguro para os muitos Açorianos que encontraram aqui – por força das circunstâncias da terra e do momento histórico passado – o local para procurar um futuro melhor para a sua família e para si próprios.

A celebração desse legado da comunidade portuguesa – como hoje aqui fazemos - é, assim, mais do que um ato de saudosismo ou simbolismo.

É, em primeiro lugar, o dever das gerações presentes para com o esforço das gerações anteriores.

É a responsabilidade daqueles que sabem que o seu lugar hoje na Commonwealth de Massachusetts é, também, resultado dos que os precederam.

E é também – e digo-o, estou certo, em nome de muitos Açorianos – um grande orgulho por podermos verificar, sem falsas modéstias, que, da política à cultura, das atividades sociais à intervenção cívica, é por demais evidente o contributo e o reconhecimento de que a comunidade portuguesa, com destaque - por força dos números - para a de ascendência açoriana, é alvo no Estado de Massachusetts e também noutras partes dos EUA.

Esse é um património que o Governo dos Açores valoriza e ao qual atribui grande importância, desde logo através de uma ação própria e direcionada por parte da Administração Regional e da ligação às instituições da nossa Diáspora, promovendo a cultura e costumes açorianos.

Fazemo-lo, não apenas para cuidar e alimentar o elo emocional forte que mantém a ponte ativa entre os Açorianos de cá e os que permanecem ou voltaram à nossa Região, mas também porque essa mole humana constitui um vetor fundamental para a afirmação dos Açores de hoje no mundo, para um melhor conhecimento da nossa realidade e também para a nossa integração nos espaços geostratégicos relevantes – acrescentando dimensão e peso político à afirmação do Estado Português. 

Nunca é demasiado sublinhar, em Portugal e no exterior, que a ênfase que colocamos no pilar açoriano desta relação não diminui, antes reforça, a importância e relevância da amizade entre Portugal e os EUA.

É agora tempo de avançarmos para uma evolução deste relacionamento, que materialize o potencial de todo este capital humano de grande valor que são os Açorianos que vivem fora da Região Autónoma.

Temos, assim, de incrementar programas de intercâmbio que valorizem o potencial que as segunda e terceira gerações de emigrantes Açorianos têm para projetar a Região nos países de acolhimento.

Neste mundo globalizado que vivemos, as comunidades açorianas constituem verdadeiros porta-estandartes dos Açores nos países de acolhimento, como é o caso dos Estados Unidos, onde há atores de primeiro plano na cena política e que podem constituir uma forma para afirmar o nome da Região.

Para isso, é necessário dar a conhecer aos nossos Emigrantes a realidade atual das ilhas, nomeadamente, uns Açores que apostaram nas novas tecnologias, na economia com inovação e empreendedorismo, que estão dotados de uma moderna rede de transportes e que têm na educação e saúde bons exemplos.

Nesse âmbito, a existência de programas de intercâmbio, no âmbito universitário, mas também em outras áreas, pode ser um bom exemplo do que deve ser o conhecimento mútuo com benefícios óbvios para ambas as partes.

Sabemos que, também da nossa parte, há expetativas por cumprir e respostas que devem ser dadas para melhor servir a nossa diáspora e a sua ligação às origens – nomeadamente através da introdução de tarifas mais atrativas e económicas.

Por agora, deixem-me afirmar que estamos fortemente empenhados com este objetivo e trabalhando arduamente para construir boas e sustentáveis soluções.

Mas, neste contexto, também não é de descurar o trajeto em curso de aumento do número de voos regulares e de constituição das parcerias que permitam maior flexibilidade e mais destinos de onde se pode voar –nomeadamente aqui nos EUA – para os Açores.

A esse trajeto coletivo, assente nos laços de familiaridade e de amizade, adicionamos também – a nível político e institucional - um relacionamento próximo de valores e objetivos partilhados.

Desde logo, entre os dois Estados no quadro da Relação Transatlântica, da defesa do Estado de Direito e dos Direitos Humanos no Mundo, mas também, de forma particular, como resultado das seis décadas de presença militar e civil americana na Ilha Terceira, através das concessões na Base das Lajes e do Acordo de Cooperação e Defesa de 1995.

Também ao nosso nível reforçamos as relações institucionais entre a Região Autónoma dos Açores e a Commonwealth de Massachusetts através do Acordo para a geminação de 2008. Esta relação baseia-se também num contacto regular entre as duas margens do Atlântico na defesa dos interesses da comunidade portuguesa e, no que respeita ao Governo dos Açores, em particular a comunidade açor-descendente nos EUA, mas também dos interesses dos Açores e de Portugal nos EUA.

Hoje, a relação de amizade e cooperação entre o Estado Português e os EUA está confrontada com desafios imediatos que podem, se não forem atendidos de forma dedicada e respeitadora do legado histórico, ferir a estabilidade e o comprometimento da mesma para o futuro.

Bem sabemos que as decisões que estão no cerne destes novos desafios não são tomadas de forma a atingir diretamente o âmago dessa relação, na medida em que não são direcionadas especificamente para Portugal e para os Açores.

Todavia, os nossos amigos e aliados americanos, aqui, em Washington, na Califórnia ou no Hawai, devem estar conscientes que não há pior forma de atenção que a desatenção; que não há pior forma de tratar um amigo e um aliado do que não cuidar de nutrir essa relação; e que não há forma mais concreta de perder todo um património de relacionamento estável e consistente, de contributo permanente para a obtenção de objetivos comuns – ainda que em partes do mundo às vezes distantes – do que deixar de valorizá-lo por comparação com outros.

No estado presente das relações entre Portugal e os EUA, creio que vale a pena recordar as palavras do Presidente John F. Kennedy, no seu famoso discurso perante o Parlamento Canadiano, em Otava, a 17 de Maio de 1961 “Geography has made us neighbors. History has made us friends. Economics has made us partners, and necessity has made us allies. Those whom God has so joined together, let no man put asunder”.

No imediato, todas estas considerações devem constituir motivo de cuidada ponderação para as decisões que os EUA venham a tomar sobre a diminuição muito significativa da sua presença militar e civil no Arquipélago dos Açores, manifestada quer nas reduções previstas para a Base das Lajes, mas também na redução paulatina de uma presença e ação efetiva e abrangente do Consulado dos EUA em Ponta Delgada.

Nestes dois dossiers concretos, a comunidade portuguesa nos EUA – sejam açorianos ou não – deve fazer ver aos seus representantes políticos ao nível local, Estadual e Federal a mais-valia que resulta do relacionamento estável e duradouro com Portugal, assente num pilar atlântico, como são os Açores, de característica únicas e que pretende continuar a ser útil para o aprofundamento da relação bilateral e para a constituição de novas valências que permitam olhar o futuro, sem riscos.

Quero ainda concluir a minha intervenção com umas palavras dirigidas especialmente a todos aqueles que homenageamos hoje nesta cerimónia.

O vosso percurso pessoal e profissional, o vosso trajeto cívico e humano na Commowealth de Massachussets e em cada uma das vossas comunidades, bem como o vosso apego e promoção da cultura portuguesa e das vossas raízes merecem o meu mais sincero reconhecimento e devem merecer de Portugal e das suas instâncias representativas o maior louvor.

Por vezes, Portugal esquece a medida do seu sucesso. E a forma como a Diáspora portuguesa promove a ligação entre os territórios de acolhimento e o país é uma dessas manifestações de sucesso, assim como o nível de integração de que gozam e o contributo que dão para o desenvolvimento de outros países.

O vosso percurso é, assim, o melhor espelho para que outros conheçam o Portugal que somos e as capacidades que temos. Bem hajam por isso.

Termino com uma palavra de redobrado agradecimento ao Portuguese-American Legislative Caucus pelo vosso amável e caloroso acolhimento e com a garantia de que o Governo dos Açores continuará empenhado e diligente na cooperação com as nossas Comunidades, aqui como no resto do mundo, certo da ligação eterna que manterá todos os Açorianos unidos no propósito de defender e valorizar o contributo da nossa cultura e tradições para a afirmação de Portugal no mundo e em particular nas Américas.

Um bem haja a todos.

Disse”.




GaCS

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