terça-feira, 14 de setembro de 2010

JOSÉ PRACANA É O “EMBAIXADOR DO FADO” NOS AÇORES

A Câmara de Ponta Delgada distinguiu com a "Medalha de Mérito Municipal" José Pracana "em reconhecimento do seu papel na dinamização do Fado, da sua investigação e divulgação cultural". A afirmação foi feita por Berta Cabral em cerimónia solene, realizada na noite de segunda-feira, no Coliseu Micaelense, onde a autarca declarou que o reputado especialista do Fado e da guitarra "é o Embaixador do Fado dos Açores", pela proliferação que faz da canção nacional "junto de todos nós e de todos aqueles que espalhados pelo mundo, sentem a alma lusa", asseverou.





A Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada salientou que a homenagem do concelho que viu nascer José Pracana se faz por duas razões: Desde logo, "por ser quem é... Um açoriano de corpo e alma... que difunde, participa, aproxima e envolve a comunidade local e além fronteiras, através da melodia e dos seus acordes, numa dimensão expressiva e inspiradora". Depois, "porque a sua obra fala por si. José Pracana é o nosso mais reputado especialista do fado e da sua mais fiel companheira: a guitarra. A familiaridade com que lida com esta com esta missão faz de si (José Pracana) um símbolo de excelência do que é verdadeiramente a expressão cultural de um povo".


Para a Presidente de Câmara a atribuição da "Medalha de Mérito Municipal" a Pracana, que resulta de uma proposta dos membros da Comissão de Toponímia Rubens Pavão e Gustavo Moura, aprovada pela autarquia, não é uma formalidade, mas, um gesto sincero de reconhecimento. Aliás, a responsável expressou na ocasião "que a comunidade e todas as instâncias sociais, culturais e políticas estão-lhe gratas pela forma perseverante e pelo entusiasmo com que, ao longo do seu notável percurso, tem sabido contribuir para manter viva a cultura musical deixada pela sua amiga e nossa diva, Amália Rodrigues".

José Pracana nasceu em Ponta Delgada em 1946 e é hoje reconhecido como um dos mais conceituados guitarristas portugueses, além do que é um grande admirador e estudioso do fado e das suas origens, bem como de famosos guitarristas que são considerados como grandes referências e verdadeiros ícones da guitarra portuguesa. A obra de José Pracana, o seu nome e a sua obra ultrapassaram as fronteiras dos Açores, participando em espectáculos e colóquios de nível internacional e na edição de trabalhos discográficos que hoje reúnem a história do fado e dos seus intérpretes. Em 2005, José Pracana actuou no "Japão – Expo AICHI", recebendo o "Prémio Fado Amador", concedido pela Fundação Amália Rodrigues. Actualmente, colabora com o Grupo de Cantares "Belaurora".

Berta Cabral considera, assim, que a obra de José Pracana ao serviço de uma causa é um registo que não se apaga e que, "pelo contrário, deve ser enaltecida".

Na noite em que a autarquia homenageou o fadista foi também elevada a viola da terra, tendo a Câmara apoiado o lançamento de duas publicações de dois conceituados autores que, como assinalou Berta Cabral, têm a mesma mensagem da "herança da nossa identidade". A autarca referia-se, respectivamente, ao jornalista, escritor e historiador micaelense, Manuel Ferreira, que lançou a segunda edição do livro "A Viola de Dois Corações"; e a José Alfredo Ferreira Almeida, que lançou, também, a segunda edição do livro "A Viola de Arame nos Açores".

"A Viola de Dois Corações", de Manuel Ferreira, surge 20 anos após o lançamento de do livro com o mesmo nome, um volume que na altura chegou às 174 páginas, e cujo lançamento público surge, também ele, após a publicação do mesmo conteúdo no Boletim Paroquial "DESPERTAR", fundado pelo Padre João Caetano Flores. O livro, agora publicado com 332 páginas, apresenta inúmeras caricaturas, desenhos e imagens de uma raridade absoluta, estando dividido em 7 capítulos. Com mais esta edição, é prestada uma homenagem simbólica a muitos tocadores, investigadores, colectividades, à investigação, à composição de letras.

"A Viola de Dois Corações" foi apresentada pela jornalista Carmo Rodeia. Já a apresentação de "A Viola de Arame nos Açores", de José Alfredo Ferreira Almeida, foi feita pelo Coronel Salgado Martins.

"A Viola de Arame nos Açores" resulta de um desafio do próprio Manuel Ferreira a José Alfredo Ferreira Almeida para a reedição conjunta dos dois livros, como, aliás, aconteceu há 20 anos atrás. Assim, a reedição deste livro é uma versão revista e actualizada em alguns factos que o Major-General Ferreira Almeida entendeu "de interesse para a história a revitalização e defesa de um património, velho de séculos, que é o nosso e nos cumpre preservar".

No seu discurso, a Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada não deixou de enaltecer os dois autores a quem manifestou uma satisfação muito especial "por estarmos em contacto físico e literário com personalidades de mérito, que nos orgulham pelos laços culturais que nos caracterizam e pela genuína forma como projectam a nossa história e as nossas tradições".

Segundo frisou a autarca, as duas obras proporcionam uma viagem num tempo e num espaço "que nos unem pela afinidade geracional". "Uma viagem em que os sentimentos e as tradições se confundem com a narrativa e com a pedagogia", finalizou.

O lançamento conjunto das duas publicações foi um pretexto interessante para um serão de verdadeira homenagem à viola da terra ou de dois corações, instrumento ícone da cultura açoriana e que hoje é ensinado no Conservatório, em Ponta Delgada. Na referida homenagem participaram o Grupo Folclórico de São Miguel, a Escola de Violas da Ribeira Quente, a Escola de Violas da Relva, Grupo do Conservatório de Ponta Delgada e Grupo de Violas da Terra de Rafael Carvalho. Aníbal Raposo também marcou presença na apresentação de temas em que a viola da terra entrosou com outros instrumentos de corda.

Entretanto, com a homenagem feita a José Pracana – que se disse sempre ao dispor da sua terra e profundamente emocionado com a distinção municipal – o público presente teve oportunidade de ouvi-lo à guitarra portuguesa, acompanhado à viola por Dinis Raposo.



Fonte: Correio do Norte

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