Texto integral da intervenção do Secretário Regional da Saúde, Luís Cabral, proferida hoje na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, na Horta, na interpelação ao Governo apresentada pelo CDS-PP:
“Hoje, mais uma vez, agora sob a forma de interpelação, é debatido nesta assembleia o estado da saúde na Região.
Exatamente há um ano atrás, participamos num debate semelhante, proposto pelo Bloco de Esquerda. A saúde, felizmente, tem sido escrupulosamente escrutinada por esta Assembleia através dos diferentes modelos regimentais possíveis e sob os mais diversos pretextos.
Consideramos extremamente importantes as iniciativas parlamentares da oposição, que apenas pecam por não usarem da mesma imaginação e criatividade no tratamento do assunto que é utilizada na criação do enquadramento mediático que antecede o debate parlamentar.
Falta de imaginação e criatividade porque o caminho escolhido segue sempre a mesma abordagem. É iniciado um burburinho mediático na semana anterior sobre algumas questões da área que serve para ir bater nos mesmos três ou quatro pontos e assim transmitir a ideia de que está tudo mal no setor da Saúde.
Compreendemos que é um tema sensível e, portanto, fácil para servir de palco a quem pretende manter-se debaixo dos holofotes e aproveitar um tempo de antena fácil, mas que, segundo o nosso entender, merece uma abordagem diferente.
A essa postura, o Governo Regional tem respondido com disponibilidade e diálogo. Tal como aconteceu nas situações anteriores, estamos aqui para explicar todas as questões e responder ao tom inflamado com serenidade. Fazemo-lo com toda a clareza, com total abertura e com total transparência.
É por isso que, em vez de apenas dar conta do que está mal, queremos dar conta do muito que se tem feito e debater o que se está a fazer neste setor, para corrigir os erros, as injustiças, as imperfeições, as estratégias mal conseguidas, no fundo a limitação da condição humana na gestão do sistema.
Agradeço pois, ao Sr. Deputado Artur Lima e à sua bancada parlamentar a oportunidade que deu ao Governo para dar conta do seu trabalho e daquilo que está a desenvolver.
Na realidade, depois de concluído o debate e entrado em vigor o Plano de Ação para a Restruturação da Saúde, temos vindo a trabalhar num vasto conjunto de medidas que vão contribuir, em muito, para a organização das unidades de saúde, permitindo uma melhor utilização dos recursos, evitando abusos e fazendo com que os serviços cheguem a mais pessoas.
Com os concursos já lançados para as compras centralizadas de material de consumo clínico e medicamentos obtivemos uma poupança superior a 500 mil euros anuais, só nos três hospitais da Região. Novos concursos estão a ser preparados e lançados para aumentar a capacidade de investimento no próprio setor, para que mais pessoas possam ter melhor acesso a cuidados melhores.
Detetamos que havia situações em que os cuidados de saúde, consultas e exames complementares chegavam depressa a uns Açorianos, mas faltavam a outros. Foi assim alterado o enquadramento legal para garantir o princípio de equidade. As deslocações de especialistas passam a ser feitas em função das listas de espera para cada especialidade e não em função de uma programação anual.
Identificou-se que o atual regime convencionado não estava ajustado às necessidades, permitia abusos e não abrangia as áreas necessárias. Iniciamos um processo de revisão das atuais convenções de forma a tornar a sua utilização mais ágil, sendo o processo tratado diretamente entre as unidades de saúde e os convencionados.
Este modelo permitirá, por exemplo, que o Hospital do Divino Espirito Santo possa dar resposta na área da Imagiologia através de uma convenção direta, resolvendo os constrangimentos que têm surgido nesta área.
Está, de igual modo, em preparação um processo de gestão centralizada de marcação de consultas e de deslocações. Esta medida vai permitir uma otimização dos serviços, vai resultar numa poupança significativa e sobretudo numa maior comodidade para as pessoas, que não terão de fazer duas ou três viagens e não terão de ficar tanto tempo fora dos seus familiares.
Foram criados incentivos para fixação de médicos nas áreas mais carenciadas e temos já sinais de que é uma medida para dar frutos, considerando os contactos que têm sido feitos pela Secretaria Regional da Saúde.
Com a chegada de mais especialistas contamos resolver uma parte significativa das listas de espera cirúrgicas. Entretanto, não estamos parados.
Foi solicitado aos hospitais que desenvolvam planos para dar resposta às pequenas cirurgias que não precisam de anestesiologistas e que estão a engrossar a lista de espera. Tal como foi revelado recentemente, a limitação não está na disponibilidade de cirurgiões, enfermeiros ou salas de bloco. Não há pois motivo para que a lista de espera de pequenas cirurgias esteja a contribuir para o número total de Açorianos à espera de cirurgia.
Está em fase final de discussão pública o Plano Regional de Saúde, com uma nova estratégia que permitirá acompanhar passo a passo as diferentes ações e perceber a sua evolução e respetivos resultados.
Na área das dependências, ao contrário do que foi afirmado, continuamos a desenvolver ações e mantêm-se os programas de tratamento, havendo cerca de um milhão de euros dedicados a esta área e estão em preparação várias ações mais agressivas dedicadas à prevenção que em breve serão anunciadas.
No tocante às infraestruturas, mantemos um ritmo de investimento de modo a dotar todas as ilhas com os melhores e mais modernos edifícios. Ainda recentemente se iniciaram as obras do Centro de Saúde de Ponta Delgada e prosseguem outras obras como todos têm certamente conhecimento.
No longo rol de tarefas que temos vindo a desenvolver, conta-se também a implementação do Conselho Regional de Saúde, que já se reuniu uma vez, a criação da Comissão de Farmácia e Terapêutica, que vai decidir a nível regional quais os medicamentos a utilizar nos hospitais e centros de saúde, que também já reuniu, e a Comissão de Pensos, que deverá reunir em breve.
Se tudo estivesse assim tão mal, não se assistiriam a demonstrações de dedicação, diferenciação técnica e espírito de pioneirismo como temos tido a oportunidade de realçar nos últimos tempos.
O Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira realizou há poucos dias diversas cirurgias endovasculares às artérias aorta e carótida, exclusivamente com médicos residentes na ilha.
O mesmo Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira também realizou recentemente um implante coclear numa criança. Foi a primeira vez que essa intervenção se realizou nos Açores.
O serviço de Urologia do mesmo hospital tem-se demonstrado como um bom exemplo de interação entre hospitais, dando resposta, nesta especialidade, aos doentes de todas as ilhas na realização de exames, no tratamento por litotrícia e na realização de cirurgias.
O rasteio do cancro do cólon é já uma realidade, com enorme esforço e dedicação dos profissionais envolvidos.
Na Unidade de Saúde de Ilha de São Miguel, as equipas multidisciplinares estão empenhadas e a fazer um esforço de atualização na área dos pensos, com resultados práticos muito interessantes, com claros benefícios para o utente, para os profissionais e para o sistema de saúde.
Fica aqui demonstrado que temos ideias muito concretas do que pretendemos e estamos muito confiantes que as medidas e ações tomadas vão levar a um melhor desempenho do Serviço Regional de Saúde.
O Governo já demonstrou o seu empenho, ao mais alto nível, no sentido de uma aposta num serviço de saúde de maior proximidade, de maior qualidade, de maior eficiência, de maior transparência e com mais humanismo.
Ao contrário do que o Sr. Deputado Artur Lima afirmou em campanha eleitoral na Ribeirinha em 2008, fica evidente, pelo ataque acérrimo às medidas que temos implementado, que não são os socialistas que se cobrem com a mesma manta que os lobbies instalados na saúde.”
| 2014.02.11-SRS-InterpelaçãoGoverno.mp3 |
GaCS
Sem comentários:
Enviar um comentário