sexta-feira, 6 de junho de 2014

Intervenção do Presidente do Governo

Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, Vasco Cordeiro, proferida hoje, em Ponta Delgada, no colóquio 60 Anos da Unileite em defesa do produtor de leite:

“Foi com muito gosto que acedi ao convite para estar presente neste evento, realizado a propósito da comemoração do 60.º aniversário da União das Cooperativas Agrícolas de Lacticínios e de Produtores de Leite da Ilha de S. Miguel.

O gosto e a honra derivam não apenas da circunstância de ser já uma bonita idade aquela que esta instituição alcançou.

Estes sentimentos vêm, também, de constatar que, mais do que uma celebração de uma efeméride, a UNILEITE aproveita esta oportunidade e esta data para refletir e posicionar-se na melhor forma de continuar a cumprir os seus objetivos e, por essa via, continuar a contribuir para o desenvolvimento e progresso de um dos principais setores da nossa economia.

Encontramo-nos aqui no coração da maior bacia leiteira dos Açores, lugar mais do que apropriado para assinalar as seis décadas de existência de uma união de cooperativas que soube vencer os desafios do tempo e da modernização e, por essa via, responder aos interesses dos seus produtores e, consequentemente, da Região.

Desde o pequeno armazém arrendado em Santa Clara, em 1953, até à moderna e competitiva unidade fabril, passando pela fábrica da Avenida Príncipe de Mónaco que entrou em laboração em 1959, o trajeto que a Unileite fez não foi isento de obstáculos.

Não foi isento de dificuldades ou até de momentos de desânimo.

Mas o que releva hoje aqui, ao mesmo tempo que constatámos a dureza desse caminho, é a capacidade dos homens e das mulheres que fizeram ao longo de 60 anos, e ainda hoje fazem, o sucesso da UNILEITE.

Pelo contributo que dá à economia regional, através dos postos de trabalho e da riqueza que cria, mas também pelo volume de exportações que gera, a UNILEITE é um bom exemplo que comprova que as cooperativas podem e devem, com boa gestão, defender os produtores associados, desenvolver bons negócios e contribuir para a criação de riqueza e para a criação de emprego nos Açores.

Basta referir que a Unileite recolhe, em média, cerca de 150 milhões de litros de leite por ano, montante que já ultrapassou na última campanha, exportando mais de 70 por cento da sua produção, assumindo ainda o importante papel de pilar da lavoura micaelense, quer nos momentos difíceis, quer naqueles de maior prosperidade.

A este percurso de sucesso não é alheio o esforço dos produtores de leite, que sempre souberam responder aos desafios não só da quantidade, mas, sobretudo, com uma matéria-prima de grande qualidade, numa relação com a sua cooperativa que já demonstrou resultar em benefícios para ambas as partes.

É também com base em exemplos como este que assenta a confiança que o Governo dos Açores tem no setor agrícola regional, o qual vai enfrentar grandes desafios em breve, como seja, desde logo, a abolição do regime de quotas leiteiras.

Estamos convictos de que, através da coordenação de estratégias e sinergias entre a produção, a transformação e a comercialização, a agricultura açoriana tem condições para se afirmar num mercado do leite mais liberalizado.

Esse esforço de união assume-se como absolutamente fundamental para que cada uma dessas três componentes da fileira do leite possa estar melhor preparada, face a uma liberalização que deverá resultar, com elevada probabilidade, numa intensificação da produção em alguns países da União Europeia, conduzindo a um forte aumento da oferta, que dificilmente será acompanhado pela mesma evolução da procura.

Ao Governo dos Açores cabe – assumimos esta responsabilidade -, entre outras matérias, criar as condições para que seja mais fácil e mais barato produzir com qualidade nas nossas ilhas, permitindo, por essa via, reduzir os custos de produção e, consequentemente, aumentar o rendimento dos produtores e de todos os intervenientes nesta cadeia.

É isso que já há algum tempo vimos fazendo.

A juntar ao muito trabalho já concretizado ao nível das infraestruturas agrícolas nas várias ilhas, inscrevemos na Carta Regional de Obras Públicas um investimento superior a 30 milhões de euros a realizar nesta legislatura para o abastecimento de água e de energia elétrica e para a melhoria da rede de caminhos, que vão beneficiar cerca de 4.400 de agricultores açorianos.

Foi essa nítida consciência do papel insubstituível que a Agricultura tem na economia dos Açores, mas também nas áreas social e ambiental, que norteou as propostas dos Programas do novo período de programação financeira para este setor e que, após concertação com os respetivos parceiros, estão em fase de negociação com a Comissão Europeia.

A Estratégia de Desenvolvimento Rural para o período 2014/2020 assenta, sobretudo, numa estrutura de três pilares, nomeadamente a competitividade produtiva e territorial, a sustentabilidade dos recursos naturais e uma abordagem integrada do desenvolvimento rural.

Para a concretização desta estratégia temos de saber explorar, na sua plenitude, a nova combinação de prioridades do FEADER, por forma a abranger um conjunto diversificado e complementar de apoios que podem beneficiar todo o setor agrícola.

No âmbito deste novo enquadramento da política agrícola e do desenvolvimento rural, o Governo pretende fazer uma aposta muito forte nos recursos humanos, reforçando o plano de formação profissional e de aquisição de competências para o setor agrícola e florestal, com recurso às oportunidades que nos são oferecidas pelo Fundo Social Europeu.

No âmbito desta visão abrangente de aproveitamento articulado dos fundos comunitários, garantimos ainda, através do FEADER, o apoio financeiro à contratação de técnicos especializados para as organizações e associações, tendo em vista o incremento e a melhoria dos serviços prestados aos seus associados.

Daremos, assim, continuidade ao trabalho de estruturação na Região de uma rede qualificada e, preferencialmente, certificada de entidades prestadoras de serviços aos nossos produtores e às instituições que os representam.

O apoio à instalação de jovens agricultores constitui, por outro lado, uma prioridade, sendo importante estimular a sua formação de forma o mais abrangente possível, procurando apoiá-los também ao nível técnico e empresarial, dimensões que se afiguram cada vez mais importantes na boa gestão de uma exploração.

No próximo período de programação financeira, o Governo dos Açores estabeleceu como uma das prioridades a competitividade e a sustentabilidade da nossa agricultura, desde a fase de produção, até à fase de comercialização, passando, naturalmente, pela componente da transformação.

Trata-se, na prática, de valorizar o que de melhor se produz nas nossas ilhas, garantindo, por essa via, as bases de sustentabilidade ao tecido produtivo regional a médio e longo prazo.

Serão, portanto, valorizados projetos que contribuam para a inovação, que implementem novos produtos e novas técnicas de produção e que permitam a criação de emprego nas nossas ilhas.

É verdade que temos todos muito trabalho à nossa frente, mas é igualmente verdadeiro que já construímos alicerces suficientemente fortes para permitir que a nossa Agricultura continue a ser um dos mais importantes e significativos setores da economia regional.

Seja na produção, na transformação ou na comercialização, o estímulo ao qual temos de responder passa por não encararmos os desafios futuros como uma fatalidade a que está sujeita uma pequena região no meio do Atlântico.

Temos dados objetivos, concretos e palpáveis a nosso favor.

Temos o melhor leite produzido no país, temos modernas fábricas suportadas na inovação, temos uma imagem de marca de confiança que nos abre portas nos mercados externos e temos um tecido produtivo cada vez mais consciente da necessidade da profissionalização e de encarar as tarefas que lhe estão cometidas de forma profissional.

Temos, sobretudo, uma vontade inquebrantável de vencer e de triunfar, como bem o prova o sucesso da UNILEITE.

Não há, pois, qualquer razão para que - com esforço e muito trabalho, é certo - não possamos continuar a ser a região de referência a nível nacional na produção de leite e lacticínios.

É este ativo, que já é reconhecido ao nível externo, que temos de continuar a explorar no futuro, nunca nos desviando, por um milímetro que seja, da estratégia que tem na qualidade a fórmula para o sucesso de toda a atividade.

Os meus parabéns pelo aniversário e os votos das maiores felicidades”.




GaCS

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