Texto integral da intervenção do Secretário Regional da Agricultura e Ambiente, Luís Neto Viveiros, proferida hoje, em Ponta Delgada, na cerimónia de inauguração do Centro Interpretativo da Cultura do Ananás:
"Assinalamos hoje com particular gosto a abertura ao público do Centro de Interpretação da Cultura do Ananás.
Um espaço, na Fajã de Baixo, freguesia do Concelho de Ponta Delgada, berço das primeiras plantações na ilha de S. Miguel, posteriormente alargadas aos municípios vizinhos de Lagoa, Vila Franca do Campo e Ribeira Grande.
A transformação desta casa, construída nos anos 20 do século passado, que já foi escola e sede da Junta de Freguesia, ganha assim maior projeção, em plena sincronia com dois outros edifícios vizinhos, de valor arquitetónico e patrimonial reconhecido:
A Igreja de Nossa Senhora dos Anjos e o Solar de Fonte Bela, mesmo aqui ao lado.
Importa também destacar a proximidade ao Centro de Estudos Natália Correia e o facto de estarmos em plena rota das plantações de ananases, integrando, assim, um roteiro turístico de excelência.
O Centro de Interpretação da Cultura do Ananás tem o propósito de divulgar e promover uma atividade de caraterísticas únicas na nossa Região.
Atividade que se mantém desde a primeira exportação para Inglaterra, em 1864, por iniciativa de José Bensaúde, e que, desde então, carateriza a paisagem de S. Miguel, com as suas estufas de vidro, de branco pintadas.
Estufas merecedoras do olhar e do registo de Raul Brandão que se referiu a "Esta terra abençoada [que] produz tudo (...), [desde] o café, o amendoim, [a]o ananás.”
No entanto, como hoje sabemos, nem mesmo uma terra abençoada, nem sequer a melhor organização e planeamento da produção, são imunes aos efeitos dos obstáculos com que nos confrontamos, muitas vezes à escala global, e que felizmente temos sabido vencer.
Do fim do ciclo da laranja, ditado, não só por questões sanitárias, mas também pelo advento de novas ligações a outras regiões do mundo produtoras de citrinos, surgiu a cultura do ananás.
Deixou assim de ser, o ananás, uma mera planta ornamental trazida para casas senhoriais, para se constituir como uma produção lucrativa e que tão bons resultados trouxe aos Açores.
Ao longo dos tempos, a cultura enfrentou, entre variados obstáculos, duas Grandes Guerras causadoras de importantes revezes ao rentável negócio da exportação… A tudo isso conseguiu sempre resistir.
A economia do ananás não tem, é certo, a pujança dos primeiros tempos áureos.
Os dois anos que medeiam entre a plantação e a colheita de um fruto são, de facto, muito tempo e provocam custos de produção mais elevados em relação aos nossos concorrentes.
Mas, como também já tive oportunidade de defender nesta freguesia, aquando das celebrações dos 150 anos da primeira exportação do ananás de S. Miguel, essa aparente desvantagem concorrencial deve, não só ser entendida como um desafio a vencer, mas também como a nossa principal vantagem competitiva.
Temos de ser capazes de transformar estas dificuldades em boas oportunidades de negócio. Porquê?
Porque produzimos um fruto único – no país e em toda a Europa –, isento de químicos e, por isso, altamente valorizável.
E esse modo de produção biológica pode e tem de ser valorizado comercialmente, assim como a cultura do ananás pode e deve ser valorizada localmente, quer do ponto de vista cultural, quer do ponto de vista gastronómico ou mesmo turístico.
Cumprimos dessa forma o “sonho do Dr. Augusto Arruda de ligar o ananás micaelense ao turismo”.
Propósito no qual o Governo dos Açores se revê. Prova disso é a abertura ao público, hoje, deste Centro.
À semelhança, de resto, do que já se verifica com o aproveitamento e promoção da cultura da vinha e do vinho, em particular na ilha do Pico.
Reafirmo, por isso, a particular satisfação que hoje coloco nesta inauguração.
Uma obra, é certo, que infelizmente sofreu significativos atrasos devido à incapacidade do empreiteiro em a concluir no prazo inicialmente contratualizado, mas que, após se desencadearem os necessários procedimentos, aí está, pronta para desempenhar a função para a qual foi projetada.
Trata-se de um investimento de cerca de 500 mil euros e que, apesar dos imprevistos a que me referi, não sofreu nenhum agravamento de custos, permitindo também a preservação de mais este património edificado da Fajã de Baixo.
Com a abertura de mais este espaço em S. Miguel - ilha onde também há cerca de dois anos inauguramos o Complexo das Sete Cidades -, a Rede de Centros Ambientais dos Açores passa a ter 18 infraestruturas em todo o arquipélago.
E, conforme o compromisso que assumimos, vamos ainda, brevemente, abrir ao público a Casa dos Fósseis, em Santa Maria, e lançar o concurso para a construção da Casa dos Vulcões, no Pico.
Concluímos, assim, o reforço da oferta existente no início desta legislatura e que, então, não abrangia todas as ilhas.
Anuncio, pois, com particular satisfação que, desde 2012, o número de visitantes dos centros geridos pela Região aumentou de aproximadamente 68.000 (mais precisamente 67.699) para cerca de 108 mil, em 2015.
Isto é, registou um crescimento de 60%.
Já este ano, só até julho, registamos novamente um crescimento de cerca de 17% do número de visitantes nos Centros Ambientais da Região, comparativamente ao período homólogo de 2015, o que corresponde a mais 64.474 visitantes, só na primeira metade do ano.
Importa também destacar um significativo e sustentado aumento anual do número de turistas que visitam os Centros.
A título de exemplo, no primeiro semestre deste ano, 23% dos visitantes era residente em Portugal continental, 12% de nacionalidade alemã e 7% belga, apenas para referir os números mais significativas.
A importância dos valores naturais, paisagísticos e culturais únicos, associada à crescente procura destes locais para as atividades de recreio e lazer em contacto direto com a natureza, fazem com que estes espaços se constituam, cada vez mais, como apetecidos destinos de visitação.
São, por isso, potenciadores de novas dinâmicas locais e criadores de novas oportunidades de negócio, em especial para os operadores de animação turística.
Este novo serviço, que hoje abre ao público, aqui, sob gestão da Direção Regional do Ambiente e da AZORINA, em parceria com a Associação Part’Ilha, vai, com certeza, contribuir para a dinamização desta freguesia e da sua economia, enquanto destino turístico.
Este é, pois, mais um bom exemplo de ação pública que permite um desenvolvimento sustentável da Região, aliando a valorização do nosso património natural e cultural à qualificação da oferta e ao desenvolvimento turístico.
A agricultura é uma atividade que contribuí de forma relevante, para esse legado patrimonial diferenciador: além do ananás, são também disso exemplo a vinha e o chá, para referir apenas algumas culturas.
Portanto, falar de agricultura – além da sua relevância económica evidente e da sua importância para a nossa autossustentabilidade alimentar - é também falar do potencial e da importância de inovar o seu aproveitamento a jusante e a montante das atividades agrícolas.
Aproveitando o aumento da procura e do consumo internos, contribui-se, também por essa via, para uma maior coesão social, salvaguarda ambiental, criação de riqueza e combate à desertificação das zonas rurais.
Recriando etnograficamente, por exemplo, usos e costumes, promovendo roteiros, provas e vendas de produtos e sabores regionais, enfim, um sem número de possibilidades para nossa fruição e de quem nos visita.
Formar e informar constitui o propósito essencial para sensibilizar todos os que usufruem destes espaços, sejam residentes ou visitantes, assegurando a continuidade dos objetivos de proteção e conservação da natureza, valores culturais e patrimoniais, transmitindo-os às gerações futuras.
Num esforço que deve ser coletivo, pois trata-se de um legado comum.
Termino com uma palavra de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido pelos colaboradores dos diversos serviços da Secretaria Regional da Agricultura e Ambiente e pela associação Part’ilha na produção dos conteúdos que integram esta exposição.
Votos do maior sucesso à equipa que vai trabalhar neste Centro.
Felicito, por fim, a população da Fajã de Baixo. A freguesia fica valorizada com este investimento que, certamente, concorrerá para o seu desenvolvimento económico e progresso futuro.
Obrigado!"
GaCS