O Secretário Regional da Educação e Cultura afirmou hoje, em Ponta Delgada, que a obra de Natália Correia é um “arauto da Açorianidade”, na medida em que a escritora, tendo saído muito nova de S. Miguel para Lisboa, “viveu sempre impregnada das vivências e das imagens da sua infância insular, que viriam constituir um dos mais sólidos e mais recorrentes motivos de toda a sua produção artística e literária”.
Avelino Meneses, que falava na cerimónia de deposição das cinzas da escritora Natália Correia e do seu marido, Dórdio Guimarães, num mausoléu construído no jardim interior da Biblioteca Pública de Ponta Delgada, salientou que a Açorianidade conquistou “reconhecimento” sobretudo em espaços fora da Região.
“Com efeito, contra a cegueira dos naturais que nunca deixaram de ser residentes, de fora brota um quadro mais cristalino dos ambientes físicos e dos convívios humanos insulares. Um quadro talvez só acessível àqueles que partem e que mais nitidamente vislumbram a ilha de longe. Um quadro de todo vedado àqueles que ficam e que não enxergam a ilha, que se lhes confunde com as próprias entranhas”, afirmou.
Na sua intervenção, Avelino Meneses frisou que a Açorianidade “é, por vezes, complexa”, acrescentando que “uns invocam o afastamento do mundo e a descontinuidade do território, que convertem os Açores em agentes de cristalização dos comportamentos, ou seja em sinónimo de isolamento, outros destacam muito o posicionamento privilegiado no Atlântico Norte, favorecido pelo determinismo do mar e pelas condições de navegação, primeiro a marítima depois a aérea, que transformam os Açores em meio de aproximação de continentes, ou seja em sinónimo de universalidade”.
Neste sentido, destacou a “mundividência”, que “também constitui uma faceta da Açorianidade”, como uma das caraterísticas de Natália Correia, que se destacou como ativista política, social e cultural.
“Caraterizada por uma personalidade livre, corajosa, mesmo polémica, valendo-se ainda de uma oratória de excelência, Natália Correia levantou a voz contra todos os totalitarismos, apesar de todos os incómodos, antes e depois do 25 de abril”, afirmou Avelino Meneses.
Por isso mesmo, segundo o Secretário Regional da Educação e Cultura, “assentou-lhe bem” a posição de Grande Oficial da Ordem da Liberdade, por ser “uma defensora do exercício pleno da democracia, que jamais se cinge à observância de um conjunto de regras e até de procedimentos de caráter quase litúrgicos”.
Avelino Meneses recordou, ainda, o papel da Natália na defesa dos direitos das mulheres e na criação, entre outros, com José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues e Manuel da Fonseca, da Frente Nacional para a Defesa da Cultura, demonstrando “uma militância continuada em prol da proteção da herança dos nossos antepassados, que constitui sempre o alicerce da construção de melhor futuro”.
Com a deposição das cinzas de Natália Correia e de Dórdio Guimarães neste mausoléu, o Governo dos Açores e a testamenteira, a arquiteta Helena Roseta, cumprem o desejo de trasladação das cinzas que se encontravam no Panteão dos Escritores, em Lisboa, para os Açores.
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GaCS
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