Texto integral da intervenção do Presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, proferida hoje, na Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, na apresentação do projecto de instalação da Estação Internacional de Monitorização e Detecção de Ensaios Nucleares – IS42:
“A instalação desta Estação de infra-sons na ilha Graciosa é um projecto cuja importância vai muito além do que em termos materiais representa para a ilha e para os Açores.
Na verdade, esta Estação, integrada no Sistema Internacional de Monitorização que tem como principal objectivo o estabelecimento de um regime eficaz de vigilância, no âmbito das Nações Unidas, para o cumprimento do estipulado no Tratado sobre a Proibição Total de Ensaios Nucleares, tem também essa dimensão política imaterial ao nos colocar como parte integrante desse programa de interesse à escala global.
A concepção dos Açores como Região de valor no contexto internacional ganha, assim, também neste caso, uma projecção acrescida.
A estação IS42 da Graciosa será uma das 60 estações de infra-sons do Sistema Internacional de Monitorização, permitindo uma melhor cobertura do Atlântico Norte, onde já existem as estações idênticas na Guiana Francesa, na Gronelândia, nas Bermudas e em Cabo Verde.
As estações de infra-sons têm capacidade para a detecção de vários tipos de eventos, a distâncias que podem atingir vários milhares de quilómetros, sendo decisivas no acompanhamento de ensaios nucleares mas, também, mediante o acesso da comunidade científica, podem ajudar no estudo das actividades sísmica e vulcânica ou de fenómenos atmosféricos.
O interesse na associação dos Açores a este programa remonta a 1998, tendo tido lugar, na ilha de S. Miguel, os primeiros levantamentos feitos pela Universidade de San Diego em colaboração com o Instituto de Meteorologia. Em 1999, o dossier e a coordenação do projecto ficaram a cargo do Governo Regional, tendo-se encetado os primeiros contactos interdepartamentais. Após algumas dificuldades técnicas relacionadas com a definição dos locais mais adequados para a instalação desta infra-estrutura, o Governo dos Açores propôs a sua instalação na ilha Graciosa, a qual reuniu as condições ideais à operação da estação.
A colaboração da Universidade dos Açores, através do Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos, revelou-se essencial pelo conhecimento que os seus investigadores têm das características da ilha e do tipo de infra-estrutura a construir. Também por isso, a Autoridade Nacional da Organização do Tratado sobre a Proibição Total de Ensaios Nucleares reconheceu «competências técnicas e científicas» a este Centro de Investigação da Universidade para ser o futuro operador da estação – para o que será celebrado, oportunamente, um contrato de prestação de serviços – assim como reconheceu a importância do projecto na monitorização da actividade sísmica e vulcânica dos Açores, ficando a estação a integrar igualmente a nossa rede com essa finalidade.
Decorrem, neste momento, os acertos finais deste projecto – que representa um investimento global na ordem de 1,9 milhões de euros –, prevendo-se que a construção da infra-estrutura e instalação do equipamento fiquem concluídas no Verão, a que se seguirá uma fase de testes. Prevê-se, contudo, a possibilidade da estação poder ficar certificada já no próximo mês de Setembro e os dados passarem a ser processados pelo Centro Internacional de Dados localizado em Viena, para onde serão transmitidos, via satélite, a partir do Centro de Registo de Dados a ser construído no Parque das Merendas da Câmara Municipal da Graciosa, na zona da Feiteira.
Do ponto de vista científico e tecnológico, esta infra-estrutura colocará a Região no mapa internacional dos projectos emblemáticos de monitorização enquadrados pelos acordos internacionais de manutenção da paz no mundo e da segurança das populações. Por outro lado, constitui-se, simultaneamente, como um elemento potenciador de projectos de investigação científica baseados em tecnologia de ponta. Acresce, ainda, que a sua localização numa ilha pequena tem repercussões sócio-económicas decorrentes dos trabalhos de construção e manutenção, do acompanhamento da infra-estrutura em termos técnico-científicos e, sobretudo, da notoriedade que um projecto deste tipo pode gerar como elemento qualificador.
Este projecto, como já tive oportunidade de dizer em relação a outros da mesma natureza – como o da Medição da Radiação Atmosférica, sedeado também aqui na Graciosa; o da Estação da ESA, em Santa Maria; o Pico-Nare, ligado a questões climáticas; o Green Islands; ou as futuras novas estações de geodesia e radioastronomia das Flores e Santa Maria, integradas na Rede Atlântica de Estações Geodinâmicas Espaciais –, aproxima a nossa Região de novos pólos de investigação. São também, é justo dizê-lo, consequência de um trabalho continuado do Governo dos Açores na gestão destas atractividades.
Espero, pois, que este projecto, decorrendo conforme o previsto, entre rapidamente em funcionamento. Desejo, por isso e para isso, um bom trabalho.”
GaCS/CT
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