Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, Vasco Cordeiro, proferida hoje em Hilmar, na Califórnia, na sessão de abertura da XVII Assembleia Geral do Conselho Mundial das Casas dos Açores:
“Começo por dirigir a todos os presentes, em meu nome e no do Governo da Região Autónoma dos Açores, uma sincera saudação, expressando o imenso prazer com que participo nesta 17.ª Assembleia Geral do Conselho Mundial das Casas dos Açores.
Um profundo sentimento de satisfação que é, aliás, reforçado pelo facto de esta Assembleia Geral decorrer, pela primeira vez, em Hilmar e na costa leste dos Estados Unidos, trazendo assim à nossa comunidade da Califórnia este importante encontro das embaixadas da Açorianidade no mundo.
Nesse contexto, quero saudar, de modo particular, o Presidente da Casa dos Açores de Hilmar, Comendador Manuel Eduardo Vieira, bem como toda a sua equipa, pela organização desta edição, na qual empregou todo o seu esforço e saber.
A calorosa e incansável hospitalidade com que temos sido acolhidos e a dedicação de toda a sua equipa farão desta Assembleia Geral – estou certo disso – um momento importante para todos os que viajaram largos milhares de quilómetros para aqui estar, para debater questões de interesse para as suas e nossas comunidades.
Aproveito ainda esta oportunidade para saudar os presidentes e representantes das 13 Casas dos Açores, bem como a Associação Cultural Amigos do Pico, da British Columbia (que se associa, na qualidade de observadora, a estes trabalhos), reconhecendo desde logo a relevância da ação das vossas instituições e saudando, por isso, o vosso empenho voluntário na defesa e projeção dos Açores, em cada um dos vossos territórios e países de acolhimento.
Uma saudação especial, também, para realçar a associação aos nossos trabalhos, pela primeira vez, de uma comitiva em representação da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, que naturalmente saúdo na sua múltipla composição, que integra os deputados José San Bento, em representação do PS, José Andrade, em representação do PSD, Artur Lima, em representação do CDS/PP e líder do CDS/PP, Aníbal Pires, em representação do PCP e líder do partido, e Paulo Estevão, em representação do PPM e líder nacional e regional do PPM, saúdo especialmente pelo reconhecimento que a vossa presença dá a este evento e, sobretudo, à nossa Diáspora no mundo.
Tendo percorrido já muitos quilómetros deste Estado da Califórnia para me encontrar com as nossas comunidades em São José e em Tulare, é com grande prazer que aqui venho, enquanto Presidente do Governo dos Açores, para presidir a esta sessão de abertura, participar no debate e na reflexão sobre os desafios e as oportunidades com que as nossas Comunidades se deparam hoje no mundo.
Hoje, aqui em Hilmar, efetivamente celebramos e honramos os Açores e os Açorianos… das nossas nove ilhas, do continente português, dos EUA, Canadá, Brasil, Uruguai.
Esta é, se necessário fosse desse ponto de vista ainda provar algo, a prova da importância e da relevância deste Conselho Mundial das Casas dos Açores, fundado em 1997 como organização autónoma e congregadora das comunidades açorianas na Diáspora e que tem contado, desde sempre, não apenas com o incentivo, mas, acima de tudo, com o apoio inequívoco e entusiástico do Governo dos Açores.
Apoio que é, simultaneamente, uma afirmação pública de que os Açores e a sua presença no mundo são mais – bastante mais - do que a simples soma do seu território físico: São o resultado da íntima relação histórica, humana, económica, política, social e cultural entre toda a nossa gente, nas diferentes partes do mundo onde se encontram, são também o resultado da sua integração nos territórios de acolhimento e a projeção que concedem – pelo seu mérito e pelo seu percurso – à Região e ao país que somos.
É inequívoco, assim, o alcance da projeção da nossa Região no mundo, mas também a dinâmica que os Açorianos, todas as suas associações e instituições, emprestam a Portugal na sua afirmação e projeção no Atlântico norte e sul.
Desde há 17 anos para cá que a dinâmica das Casas dos Açores e deste Conselho não cessou de se aprofundar e renovar, ao mesmo tempo que alargou a sua área geográfica de atuação e o número dos seus membros.
Das nove Casas dos Açores fundadoras, passamos, com Winnipeg e a Ilha de Santa Catarina em 2001, Rio Grande do Sul em 2003 e Uruguai em 2011, a uma rede de treze organizações. No ano passado, a Casa dos Açores da Baia passou a ser a décima quarta instituição a assinar um protocolo com o Governo dos Açores, tendo solicitado em seguida a sua adesão a este Conselho Mundial.
E no futuro - assim o espero - teremos a oportunidade de continuar a ter este Conselho alargado, bem como aprofundado o trabalho das nossas instituições.
Assim se demonstra, desde logo, a vitalidade da atuação das Casas dos Açores, mas também a importância do seu Conselho Mundial, que permite a análise e o debate conjunto de questões, a partilha de experiências e, ainda, o estabelecimento de uma agenda comum, reforçando, como tal, uma ação determinada e melhor coordenada.
Gostaria, precisamente, de realçar a importância que representa, para a Região Autónoma dos Açores, o trabalho desenvolvido por cada uma das vossas instituições, por cada uma das Casas dos Açores, seja no continente português, no Canadá, nos Estados Unidos, no Brasil ou no Uruguai.
As Casas dos Açores têm, mais do que um trabalho, uma missão. Uma missão que tem como um dos principais objetivos promover a Açorianidade e assegurar que as nossas manifestações culturais, nas suas mais variadas formas e expressões, continuam a integrar a vivência dos Açorianos que vivem fora das nove ilhas.
Mas, hoje, as Casas dos Açores têm também uma outra função primordial e que, porventura, se constitui como o desafio maior para o nosso futuro imediato: assegurar a continuidade da presença dos Açores e da vivência da Açorianidade na Diápora, em especial, através do reforço da capacidade de ligação e de interação com os açor-descendentes e com os mais jovens das nossas comunidades.
Durante a minha permanência na Califórnia tive já o grato prazer de me encontrar com diversos empreendedores, muitos dos quais jovens – como os Young Portuguese Americans – e melhor perceber como estas novas gerações, integradas num estado com a dinâmica económica da Califórnia, não esquecem as suas raízes, a sua cultura, mas antes a assumem como uma mais-valia no contexto da vivência na sociedade e na economia americanas.
E se é assim aqui, também o é em todas as nossas outras comunidades, onde muitos são os exemplos de afirmação e destaque de elementos mais jovens da nossa diáspora que, acompanhando as gerações anteriores e não esquecendo a riqueza do seu património cultural e a afinidade com a nossa terra, souberam reinterpretá-los à sua realidade e ao seu tempo.
As Casas dos Açores e outras instituições de génese açoriana têm, inegavelmente, este mérito na transmissão da herança cultural às gerações mais jovens de açor-descendentes e continuam a assumir-se, cada vez mais, como agentes fundamentais na projeção dos Açores junto dos países de acolhimento.
Mas, julgo terem também o desafio de se abrirem para acolher novas tendências e novas reinterpretações da nossa cultura, da nossa vivência, da nossa Açorianidade pelos mais jovens, para que, desde logo, estes sintam que estas são também as suas Casas.
E esta missão das Casas dos Açores – que é, aliás, partilhada com centenas de outras instituições açorianas e portuguesas da diáspora - vem precisamente enriquecer e valorizar a verdadeira essência da Açorianidade, assegurando, ao mesmo tempo, a sua continuidade, sendo, por isso e justamente, merecedora do nosso profundo reconhecimento.
Como bem sabemos, as vagas de emigração açoriana ao longo dos séculos moldaram as estruturas sociais, culturais e económicas de todas as parcelas do nosso arquipélago.
Mas a emigração açoriana permitiu, também, uma grande abertura da nossa Região ao mundo, através de um permanente contacto com novas e diferentes sociedades e culturas, regiões e países.
Por isso, hoje, no momento em que os Açores enfrentam desafios para os quais as nossas comunidades são também convidadas a dar, de igual modo, o seu contributo, em benefício de todos.
O Conselho Mundial das Casas dos Açores, que representa e tem ligações privilegiadas com grande parte da nossa Diáspora, é, por isso, entendido pelo Governo como um importante parceiro, também no âmbito da concretização de iniciativas para o desenvolvimento da economia dos Açores.
Será o caso, por exemplo, da captação do investimento externo para os Açores ou do aumento das exportações da nossa Região, que podem ser potenciadas por cada uma das Casas dos Açores, sem descurar, naturalmente, as perspetivas mais tradicionais da sua ação e não obstante as especificidades próprias de cada uma das instituições e das próprias comunidades onde se encontram.
Nos Açores, iniciaremos em breve um novo período de programação e financiamento ao abrigo de novos instrumentos financeiros da União Europeia e, do mesmo modo - como será melhor desenvolvido logo à tarde pelo presidente da Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores (SDEA) -, foi recentemente preparado um novo sistema de incentivos à economia da nossa Região.
Devemos perspetivar este momento, assim, como uma importante oportunidade para a definição de ações que enlacem estas prioridades e estes novos desafios em ligação com as nossas comunidades emigradas.
O Governo dos Açores tem estado particularmente atento a esta dinâmica, tendo promovido, já durante este ano, em maio, nas ilhas de São Miguel e Terceira, o Primeiro Encontro Empresarial da Diáspora dos Açores, iniciativa a que certamente iremos dar continuidade.
E é por isso, também, que sugerimos a inclusão num painel desta Assembleia Geral da apresentação das “Oportunidades de Investimento nos Açores”, que decorrerá hoje à tarde.
Em suma, os desafios do presente, colocados aos Açorianos de cá e de lá, aos Açorianos de todo o mundo, exigem respostas diversas, é certo, mas que poderão ser potenciadas pela união de esforços entre parceiros públicos e privados, entre as nossas comunidades da Diáspora e nos Açores, entre diversas gerações.
Podemos, pois, concluir que é possível aliar ao capital afetivo novos conceitos e novas estratégias para o desenvolvimento, incluindo o capital político, neste universo de mais de um milhão de Açorianos e descendentes que residem fora da Região.
Assim, é extremamente importante que sejamos capazes de criar condições para promoção e divulgação da nossa realidade regional nestes espaços privilegiados que são as nossas comunidades, fomentando o desenvolvimento da nossa Região, procurando novas oportunidades e dando a conhecer o destino turístico único que são os Açores.
As Casas dos Açores, conscientes da necessidade de adaptação aos tempos atuais, no que concerne à abrangência da sua ação, têm procurado, é importante reconhecê-lo, diversificar o seu plano de atividades, englobando novas áreas de interesse e, por outro lado, expandir a sua atuação junto das sociedades onde se encontram estabelecidas.
Através deste processo será possível termos mais Açores no mundo, com maiores proveitos e resultados neste esforço comum para o nosso arquipélago e para as nossas comunidades, que assim reforçarão a sua presença e o seu dinamismo onde quer que se encontrem radicadas.
Deste modo, e para potenciar a respetiva participação e contributo neste processo, gostaria de anunciar que o Governo está já a trabalhar num processo de formação específica dirigida a todos aqueles que a ele quiserem aderir, nomeadamente elementos das Casas dos Açores, para dar conta de oportunidades de fomentar e reforçar, desde logo ao nível económico, esta relação entre as nossas comunidades e os Açores.
Esse processo permitirá reforçar os instrumentos e a informação para que a nossa Diáspora possa melhor agir, nos respetivos contextos onde se integram, para projetar no nome da Região Autónoma dos Açores e as suas potencialidades.
Por isso também, gostaria de propor ao Conselho Mundial e a todas as Casas dos Açores a criação de uma nova plataforma eletrónica de comunicação que agregue informações e atividades de cada instituição, com ligações e fácil acesso a dados sobre os Açores de hoje, as suas potencialidades, as suas mais-valias, e que constitua também uma forma de dar a conhecer o trabalho das Casas dos Açores e as oportunidades na nossa Região.
Trata-se, ao fim e ao cabo, de juntar forças numa mesma plataforma, disponibilizando informação e ferramentas e um melhor acesso a informação com especial interesse para a Diáspora e a projeção externa da Região, como seja na área das comunidades, do investimento e do turismo, mas também da juventude, ciência, intercâmbios e cultura.
Todos sabemos como a Região Autónoma dos Açores, no contexto nacional e europeu, tem contribuído, de forma decisiva, para o fortalecimento das relações transatlânticas, graças à sua posição geoestratégica e às suas Comunidades.
Este é, sem dúvida, o momento oportuno para reforçarmos uma ação concertada em prol dos Açores e das nossas comunidades.
Veja-se, a propósito, o caso das negociações em curso entre a União Europeia e os Estados Unidos para o estabelecimento de uma Parceria Transatlântica para o Comércio e Investimento, cuja conclusão representará certamente uma oportunidade de aumento das exportações de produtos regionais para os EUA, mas também do investimento externo nos Açores, como porta de entrada da Europa que somos.
Com este espírito de sinergia, apelo a todos para que continuem a ser defensores empenhados da Açorianidade, mas também promotores das potencialidades e do desenvolvimento das nossas ilhas.
O nosso compromisso, o do Governo dos Açores e o meu em particular, é o da proximidade com as nossas comunidades e instituições e o da parceria com as vossas iniciativas.
Neste sentido, acredito que as nossas comunidades, através dos seus representantes e líderes, conhecedores profundos, que são, das nossas especificidades e aspirações, continuarão a fazer parte integrante do futuro dos Açores, que se quer sustentável, dinâmico e promissor para as gerações vindouras.
A terminar, reafirmo o apreço e o reconhecimento do Governo Regional às Casas dos Açores, pela sua relevante ação na afirmação da Açorianidade e na projeção externa da Região, bem como a todos os Açorianos, açor-descendentes e amigos dos Açores que, na Diáspora, promovem a nossa identidade, divulgam as nossas ilhas e prestigiam o nosso povo.
Desejo a todos um bom trabalho e formulo os votos dos melhores resultados para esta 17.ª Assembleia Geral do Conselho Mundial das Casas dos Açores.
Muito obrigado pela vossa atenção.”
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GaCS
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