Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, Carlos César, proferida hoje, na cerimónia de inauguração do Centro de Interpretação do Lajido de Santa Luzia, na ilha do Pico:
“Reconhecida pela Humanidade, que a classificou como património mundial, a Paisagem da Vinha da Ilha do Pico tem ganho progressivamente, mercê dos investimentos realizados nos últimos anos, uma notoriedade que acresce à medida que recebe mais visitantes que a enaltecem, reconhecendo o cuidado que nela tem sido depositado. Podemos dizer que este espaço natural classificado é – e sê-lo-á ainda mais – um factor de atracção ao Pico e aos Açores, e de desenvolvimento local.
O Centro, que agora inauguramos, corresponde a mais um benefício que, desta vez, comportou um investimento de perto de 900 mil euros. Aqui localizam-se as instalações do Parque Natural da Ilha do Pico – que incluem o Gabinete Técnico da Vinha, os Serviços de Ambiente do Pico, os Vigilantes da Natureza e os funcionários das Ecotecas e Centros de Interpretação – uma zona expositiva, outra de apoio técnico, bem como uma zona de visualização da Montanha do Pico. Pretende-se, evidentemente, que este espaço proporcione o conhecimento histórico e técnico associado à cultura da vinha, através de uma gestão dinâmica, de exposições temporárias sobre esta e outras paisagens culturais vinhateiras e de afectividade para com os visitantes.
É muito complexa a gestão de áreas classificadas como esta, mas o sucesso da sua gestão pode e deve resultar em vantagens reais para as populações e não em incómodos e perdas de rendimento ou bem-estar.
Foi o que fizemos, por exemplo, aqui, no Lajido de Santa Luzia, assegurando, através de um investimento de 630 mil euros, a resolução do problema da electrificação do núcleo habitacional, sem afectar a desejável harmonia arquitectónica e com acréscimo da qualidade e segurança desse fornecimento às pessoas. Este investimento do Governo foi complementado, no exterior do núcleo, por uma abordagem similar efectuada pela Câmara Municipal de São Roque. O Governo, porém, irá prosseguir estes investimentos: assim, estamos a terminar os projectos de electrificação para os restantes núcleos habitacionais da Paisagem da Vinha, com prioridade assinalada para o Cais do Mourato, Fogos e Ana Clara, Cabrito e Cachorro.
Defender o ambiente é também defender a convivência equilibrada no meio natural.
Aliás, é só por causa das pessoas que nos compete defender os nossos recursos e potencialidades naturais e não por nenhum valor abstracto desfocado do nosso presente e do nosso futuro.
É nesse enquadramento conceptual que interpretamos, também, a proclamação pelas Nações Unidas de 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade, proclamação à qual associaram a realização de um vasto programa destinado a sensibilizar os cidadãos, e os decisores políticos, para a importância de ser travada a acelerada perda de espécies que afecta de forma global o planeta. De facto, com mais de seis mil milhões de pessoas a viverem na Terra, a perda de habitat para as outras espécies terrestres e marinhas é hoje uma ameaça avassaladora. Por outro lado, a facilidade de transporte de espécies, resultante da globalização, entre regiões praticamente antípodas, que tinham permanecido biogeograficamente isoladas durante milhões de anos, gerou intrusões depredadoras e limitadoras de outras espécies.
Apesar de deterem uma parte muito significante da biodiversidade mundial, os ecossistemas insulares são particularmente vulneráveis a invasões biológicas, sendo a introdução de espécies exóticas invasoras responsável pela extinção de múltiplas espécies endémicas de ilhas.
As consequências de quase seis séculos de presença humana nestas ilhas e, em particular, das profundas alterações do último século no uso do solo, associadas à entrada em massa de espécies transportadas de outras regiões do planeta, reduziram a generalidade dos endemismos açorianos à situação de espécies relíquia, com distribuição restrita a áreas de pouca valia agrícola, verdadeiros habitats refúgio, onde a sua sobrevivência, se não forem tomadas medidas de protecção, é mais do que incerta.
O Governo, através de planos de erradicação, tem procedido à remoção de populações de espécies invasoras em centenas de hectares dos sítios protegidos mais sensíveis das nossas ilhas, incluindo, pela primeira vez, a remoção, numa operação subaquática sem precedentes no país, de populações de uma alga invasora.
A decisão do Governo de criação de Parques Naturais em cada uma das nossas ilhas foi, também, para esse efeito, muito importante. Esses parques, como o que nos encontramos, visam, em simultâneo, potenciar os usos humanos do território – especialmente nas áreas da visitação, dos trilhos pedestres e da animação turística – e têm excepcional valor na perspectiva de conservação da biodiversidade, já que neles destinamos parte do território especificamente à preservação e ao restauro de biótopos dos endemismos açorianos e à recuperação do habitat das espécies migradoras que frequentam as nossas ilhas, com destaque para as aves marinhas.
A entrada em funcionamento desses parques naturais, que neste ano se estenderá à totalidade das nossas ilhas e à região oceânica sob nossa responsabilidade, demonstra bem que os objectivos que a Organização das Nações Unidas traçaram para este Ano Internacional da Biodiversidade não passaram ao lado dos Açores.
Aliás, a consideração da nossa Região do ponto de vista do seu valor natural e ambiental – que, como já salientei, deve alavancar o nosso desenvolvimento económico e social – foi recentemente reforçada com o reconhecimento pela União Europeia de dois sítios protegidos no oceano profundo (os primeiros a nível europeu, propostos pelos Açores em resultado do interesse de que se revestem), colocando sob responsabilidade açoriana duas áreas salientes pelas suas fontes hidrotermais e pela extraordinária biodiversidade que lhes está associada.
Vamos, pois, continuar esse esforço de conservação da biodiversidade.
Dentro em breve, graças à iniciativa e ao apoio do Governo junto da Universidade dos Açores, será lançada a primeira lista completa das cerca de nove mil espécies que povoam o nosso arquipélago. Não é uma listagem completa, até porque nunca o será, mas é um excelente contributo para o nosso conhecimento acerca da ecologia açoriana.
No caso do Pico, compete à direcção do Parque Natural de Ilha zelar pelas espécies e seus habitats, promover a educação ambiental e gerir as estruturas interpretativas já existentes – o Centro de Interpretação do Lajido de Santa Luzia, que hoje inauguramos, o Moinho do Frade, a Gruta das Torres e a Casa de Acesso à Montanha.
Estamos no bom caminho, no que às políticas e ao investimento na recuperação e conservação ambiental diz respeito, agora que também iniciámos a resolução estrutural dos problemas associados à gestão dos resíduos – num projecto, já em execução com a construção de centros de resíduos em várias ilhas, que implicará mais de uma centena de milhões de Euros de investimento – beneficiando de um reforço de fundos comunitários para o efeito já acordado politicamente com o Governo da República, e contando, certamente também, com a colaboração das autarquias e dos privados.
Como sempre, importa trabalhar e concretizar. Hoje, aqui, cumprimos mais uma vez”.
GaCS/CT
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