Realiza-se amanhã, pelas 14:30 horas, no Centro de Interpretação da Lagoa das Furnas uma sessão técnica onde será apresentada a situação actual da qualidade da água na Lagoa das Furnas e as suas perspectivas de evolução. Estarão presentes o Secretário Regional do Ambiente e do Mar, o Director Regional do Ambiente e diversos técnicos envolvidos no processo de intervenção em curso na bacia hidrográfica das Furnas. A sessão é aberta à comunicação social e ao público.
Mais uma vez se enfatiza que a recuperação da qualidade das águas das lagoas eutrofizadas pela acção humana é um processo que levará muitos anos, já que a eliminação de nutrientes da massa de água e dos sedimentos, para não falar dos solos envolventes que continuam enriquecidos por passadas fertilizações, é um processo lento durante o qual são de esperar, particularmente em períodos de grande insolação e elevada temperatura do ar, episódios de proliferação como o que actualmente ocorre. Os resultados analíticos são públicos e o trabalho em curso pode ser conhecido com uma visita ao Centro de Interpretação Ambiental das Furnas.
Tendo em vista a recuperação da qualidade da água da Lagoa das Furnas, o Governo dos Açores, com a colaboração de múltiplas entidades que têm vindo a manifestar o seu interesse no processo de recuperação da Lagoa das Furnas, tem vindo a realizar diversas diligências e intervenções, com o objectivo de reduzir a afluência de nutrientes e de sedimentos à Lagoa, situação que ao ter ocorrido ao longo de muitas décadas está na origem dos actuais problemas de qualidade da água.
Com esse objectivo, entre áreas públicas e privadas, já foi alterado o uso do solo em mais de 50% das áreas de pastagem, com remoção de cerca de 500 cabeças de gado que existiam no interior da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas, estando mais uma área considerável já em fase final de acordo para reconversão. Com esse objectivo o Governo Regional adquiriu mais de 265 ha, predominantemente de pastagem, e procedeu à eliminação de estrumes e fertilizações em 220 ha de pastagem, dos quais 160 ha adquiridos e 60 ha contratados.
Paralelamente está a decorrer um Plano de Florestação, tendo já sido entregue para reconversão do uso do solo 130 ha de área agrícola privada no denominado Prédio do Touro e 34 ha na propriedade do Castelo Branco e das Furnas Lake Villas, as quais já foram florestadas pelos respectivos proprietários.
Para reduzir a afluência de sedimentos, procedeu-se à construção de 10 bacias de retenção nos leitos das ribeiras de onde se extraem em média 20.000 m3 de terras por ano, que de outra forma afluiriam à Lagoa e reduziriam ainda mais a sua profundidade. O processo de redução das afluências de sedimentos foi complementado com a recuperação e plantação de 8 linhas de erosão, com uma área superior a 2 ha, o que levou à cessação dos ravinamentos activos ali existentes. Foram ainda plantadas mais de 2000 metros de faixas tampão ao longo de linhas de água nas pastagens altas e criadas inúmeras pequenas bacias de retenção de água e dissipadores de energia hídrica, para controlo do regime hídrico torrencial e erosão resultante.
Para acelerar o processo de remoção de nutrientes de dentro da bacia hidrográfica da Lagoa, foram nos últimos três anos produzidos e retirados para o exterior da zona 5200 rolos de erva, equivalentes a 3600 toneladas de erva com os respectivos nutrientes, nutrientes esses que sem esta intervenção acabariam maioritariamente nas águas da Lagoa. Paralelamente foram removidas dezenas de toneladas de resíduos poluentes dos terrenos adquiridos, reduzindo as afluências poluentes à Lagoa.
Em paralelo a essas medidas de controlo das afluências de sedimentos e nutrientes à Lagoa, foram executadas medidas de enquadramento ambiental e paisagístico da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas, com o controlo das infestantes em 146 ha de pastagens degradadas e mata e a plantação de mais de 30 ha das zonas mais declivosas e degradadas, em áreas públicas, predominantemente com espécies folhosas e nativas (cerca de 90%), além das áreas privadas acima referidas. Estão em curso negociações para conversão de aproximadamente mais 87 ha de área florestal de produção de criptoméria em áreas de protecção, predominantemente com espécies folhosas e nativas na zona em torno da Mata Jardim José do Canto. Também se procedeu ao combate a infestantes e requalificação de 1200 m de margem de ribeiras afluentes à Lagoa, reduzindo a erosão e o transporte de sedimentos para a massa de água.
Embora a questão essencial para a recuperação da qualidade da água na Lagoa esteja naturalmente centrada nas causas profundas do problema, ou seja no controlo do uso da bacia hidrográfica, em particular das pastagens sobranceiras à Lagoa, tem vindo a ser mantido um programa de intervenção no plano de água e de monitorização da qualidade da água da Lagoa. Nessa componente da intervenção inclui- se a recolha e remoção de várias toneladas de algas por ano das margens da Lagoa, com os respectivos nutrientes, e o funcionamento de um arejador que normalmente ajuda a Lagoa das Furnas a ultrapassar as dificuldades causada pelo período de Verão, em que a estratificação e o aquecimento da água reduzem o oxigénio dissolvido nas camadas mais profundas. A medida, dada a pequena dimensão do débito do equipamento e as suas características, é de mera minimização, não tendo impacte substancial no desenrolar do processo de melhoria a médio e longo prazo da qualidade das águas.
Embora a avaria do equipamento de arejamento possa ter contribuído para o agudizar da proliferação de algas microscópicas e de cianobactérias verificado nas últimas semanas, a principal causa é a presença de grandes quantidades de nutrientes acumulados nos sedimentos da Lagoa, resultado de muitas décadas de agricultura intensiva na bacia, conjugada com as temperaturas elevadas do ar e da água, a baixa precipitação e o pouco vento. Estas condições levaram este ano à proliferação de um organismo de coloração amarelada por oposição aos que normalmente predominam de cor verde, mas tal não corresponde a qualquer alteração substancial na situação da Lagoa, sendo o efeito apenas de natureza estética.
Importa salientar que apesar da actual proliferação de microrganismos, no Inverno e Primavera passados a Lagoa já apresentou resultados demonstrativas da melhoria na qualidade da água, com valores mais baixos de fosfatos e nitratos, resultado das intervenções que têm sido levadas a cabo nos terrenos da bacia hidrográfica. Esses resultados, que correspondem à melhoria da qualidade das águas no aspecto trófico, são aquilo que verdadeiramente se procura.
GaCS/SRAM
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