sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Intervenção do Presidente do Governo


Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, Carlos César, proferida hoje, no Livramento, na cerimónia de lançamento da 1.ª Pedra da obra da Unidade de Tratamento e Reabilitação Juvenil - Solar da Glória:

“Assinalamos, hoje, através deste acto público, o início de mais uma obra que acrescenta ao nosso sistema de saúde um importante benefício, colmatando insuficiências importantes nesta área de intervenção e de cuidados.

Nestes últimos meses, aliás, concluíram-se e lançaram-se outras iniciativas relevantes no âmbito das nossas infraestruturas de saúde: inaugurámos o novo e moderno Hospital da ilha Terceira e o novo Centro de Saúde da Graciosa, e iniciámos a construção do novo Centro de Saúde da Madalena. Estão também em curso beneficiações de grande alcance para a qualidade do nosso Serviço Regional de Saúde, como a construção do bloco C do Hospital da Horta, e queremos ver começar este ano a construção Centro de Saúde de Ponta Delgada, junto ao Hospital do Divino espirito Santo, e a criação do novo equipamento, pelo qual muito temos porfiado, o Centro de Radioterapia. Hoje, começamos a por de pé esta Unidade de Tratamento e Reabilitação Juvenil.

O Governo tem muitas razões para se orgulhar do trabalho que tem realizado e que está a realizar neste sector – só quem não vive ou nunca viveu nas nossas ilhas é que pode ignorar o extraordinário progresso que o sector da Saúde teve nos Açores. Já se sabe que há quem ache que os açorianos deviam ter um mínimo e não um máximo de meios e cuidados de saúde, e que critique a despesa que o Serviço Regional de Saúde representa. Nós queremos que haja cada vez mais e melhores cuidados de saúde e uma gestão cada vez mais justa, rigorosa e competente dos recursos humanos, materiais e financeiros envolvidos e do esforço contribuinte dos cidadãos.

Temos, é sabido, dificuldades de financiamento na área do sistema público de saúde, mas temos, é bom reconhecê-lo, um excelente serviço regional de saúde, sobretudo se o compararmos com o que tínhamos ou com os que outros têm noutras regiões. Num inquérito recentemente realizado, por uma empresa independente, junto dos utentes dos hospitais dos Açores, a opinião apurada dá prova do apreço dos açorianos pelo seu Serviço Regional de Saúde, contrariando as propagandas de palradores e escrevinhadores de ocasião, que mediatizam intencionalmente as exceções à qualidade existente e ocultam a regra: só 5% dos inquiridos não avaliou o atendimento e os serviços prestados nos hospitais dos Açores como bom ou como razoável.

Porém, como dizia, temos de continuar a aperfeiçoar o que temos. Esta unidade, que estamos agora a criar, insere-se na organização das respostas, que importa reforçar, face a um dos fenómenos mais gravosos do nosso tempo, que é a toxicodependência, cujas marcas negativas, não só no plano da saúde, afetam muito significativamente a estabilidade de famílias e o desenvolvimento social.

A toxicodependência é, todavia, um desafio e um problema de saúde. Como tal, deve ser alvo de ações de prevenção junto dos nossos jovens e adultos, como de tratamento com vista à reintegração dos envolvidos.

A Unidade de Tratamento e Reabilitação Juvenil que aqui vamos construir – uma obra orçada em 1,4 milhões de euros e com um prazo de execução de dez meses – tem exatamente esse objetivo. Vem dar resposta a dois níveis de intervenção: o da desintoxicação, realizando o tratamento de síndromas de privação em toxicodependentes – com uma capacidade de dez camas –, e o da reintegração, com uma unidade para internamento prolongado, com uma capacidade de vinte camas numa ocupação que poderá ir até aos dezoito meses.

Terá, assim, uma capacidade média de cento e vinte pessoas por ano para a fase de desintoxicação e de sessenta para a fase de ressocialização. São quase duas centenas de pessoas, predominantemente jovens, que retirarão, assim o esperamos, tal como as suas famílias, benefícios para a uma nova vida e ganhos inestimáveis de saúde.

Em todo o processo, o propósito será sempre o de dotar os que aqui estiverem internados dos instrumentos necessários para superarem a sua dependência e poderem reintegrar-se no seu contexto social.

É um investimento inovador à escala regional, pois, até agora, os tratamentos foram feitos em comunidades terapêuticas do continente, através de um protocolo com o Instituto da Droga e da Toxicodependência (atual Serviço de Intervenção aos Comportamentos Aditivos e Dependências). Com o funcionamento deste centro de reabilitação os nossos jovens terão aqui uma unidade de resposta terapêutica profissionalizada, mais humanizada e sem terem de sair dos Açores.

No âmbito dos tratamentos já prestados, temos várias respostas, com opiáceos de substituição, sem recurso a internamento. Ainda recentemente entrou em funcionamento o Centro de Aditologia da Horta, alargando o apoio que é já prestado na ilha Terceira, através do Centro de Aditologia do Hospital de Angra, e do Projeto Percursos, em S. Miguel, com a cooperação de associações que se dedicam a esta área, como a Santa Casa da Misericórdia da Povoação, a Casa de Saúde de S. Miguel, a ARRISCA e a Alternativa. Nesses centros e instituições tem sido prestado apoio a pessoas dependentes através de programas que, pela sua natureza e proximidade, permitem envolver os indivíduos e as famílias em processos de reintegração.

Como já tenho referido, outra ação bem sucedida é a que é efetuada através de equipas móveis – duas na ilha de S. Miguel e uma na Ilha Terceira – cujos esforços têm sido dirigidos a uma faixa da população toxicodependente que não adere aos programas de tratamento em instituições específicas. Essas equipas vão ao seu encontro e, só no ano de 2011, prestaram apoio a mais de meio milhar de pessoas.

Os resultados de todo o trabalho desenvolvido são animadores e há dados concretos que referem muitas centenas de pessoas, sobretudo jovens, que, com estes programas, conseguiram curar-se e recomeçar as suas vidas.

Também muito importante é o trabalho que tem sido desenvolvido no âmbito das Unidades de Saúde, sendo por vezes uma primeira linha de intervenção em estreita ligação com os Cuidados de Saúde Primários e com os Cuidados mais diferenciados nesta área. No sentido de melhorar ainda mais a resposta a este nível, no ano passado foram realizadas duas ações de formação que abrangeram 200 profissionais de saúde.

É igualmente expressiva a ação desenvolvida no campo da prevenção, num trabalho implementado por equipas de técnicos que vão ao encontro sobretudo dos jovens, em contactos na rua, junto de escolas, nos locais de diversão noturna, informando de forma construtiva sobre os riscos das várias dependências. Falamos de programas como o “Xpressa-te”, em S. Miguel, “(In)forma-te”, na Terceira, e o projeto “Trilhos Saudáveis”, no Faial, que em 2011 chegaram a cerca de catorze mil jovens.

De sublinhar também as ações desenvolvidas no âmbito do programa “Tu Decides” e “Tetrapi-Ciência Divertida”, programas que têm chegado a milhares de alunos do 1º e 2º ciclos e que se baseiam nas influências sociais, nas influências dos grupos de pressão que intervêm no momento da tomada de decisão.

Temos, pois, procurado envolver os sistemas público e privado de saúde, do serviço social, de educação e do emprego, na perspetiva de soluções consolidadas, quer na prevenção quer na reabilitação. Mas temos, evidentemente, de continuar a melhorar esse trabalho, bem como a sua coordenação.

É uma luta muito difícil, seja pela fragilidade da vítima seja pela reprodução incessante, usurária e criminosa do “agressor”. Todos os dias são identificadas novas drogas sintéticas e novas substâncias, o que prejudica a nossa ação e os resultados que pretendemos alcançar, mas essas dificuldades acrescidas só nos devem motivar e convocar para reforçarmos a nossa atenção e pró-atividade.

Dirijo, também hoje, uma palavra de reconhecimento e de estímulo a todos os voluntários, profissionais e técnicos de instituições que, como no caso da ARRISCA, prestam esse serviço e revelam esse inconformismo neste combate cívico. Obrigado.”



GaCS

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