quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Cachalotes marcam cultura dos Açores de forma indelével, afirma Diretor Regional dos Assuntos do Mar

O Diretor Regional dos Assuntos do Mar afirmou, na Horta, que o Governo dos Açores está a trabalhar para que o arquipélago seja a primeira região do mundo classificada com o galardão de 'Whale Heritage Site', reconhecido pela World Cetacean Alliance e por outras entidades internacionais de relevo, como a International Union for Conservation of Nature.

“Os Açores, devido à sua posição geográfica, ao seu regime oceanográfico e à topografia complexa dos seus fundos, albergam uma fauna de baleias e golfinhos muito diversa”, salientou Filipe Porteiro, frisando que “os cetáceos e, em especial, o cachalote, marcam de forma indelével a cultura” açoriana.

Filipe Porteiro falava na palestra intitulada 'The whales that shape the Azores maritime culture: why the Archipelago is a true Whale Heritage Site', apresentada no âmbito da Cimeira da Aliança Mundial de Cetáceos, que decorre até sexta-feira.

“A relação do povo açoriano com estes gigantes marinhos tem dimensões históricas e atuais, que envolvem aspetos que vão desde a economia à sociologia, passando pela arquitetura, a etnografia, artesanato e arte, ciência e tecnologia, conservação e sensibilização ambiental”, afirmou.

“Desde a caça à baleia até à observação de cetáceos, mudou-se o paradigma, mas estas atividades económicas exploram, no fundo, os mesmos recursos”, salientou o Diretor Regional.

Na sua intervenção, recordou que o legado da baleação norte-americana, entre 1760 e 1921, alimentou a tecnologia que foi adaptada para que a caça à baleia costeira se iniciasse nas Flores, no Pico e no Faial e se estendesse de seguida a todas as ilhas dos Açores, de 1850 a 1987.

A atividade baleeira marcou a primeira grande vaga de emigração açoriana para os Estados Unidos da América, sendo que na década de 1940 iniciou-se o período da industrialização da baleação açoriana que, segundo referiu o Diretor Regional, "atingiu o seu apogeu económico logo a seguir à II Grande Guerra”.

Filipe Porteiro afirmou que muitos autores norte-americanos e portugueses têm vindo a investigar e publicar estudos sobre estas atividades marítimas, “clarificando a verdadeira dimensão cultural e patrimonial que elas tiveram na sociedade açoriana”.

Nesse sentido, salientou que o legado da baleação nos Açores inclui “um vasto conhecimento científico, estilos arquitetónicos e de construção naval, bem como técnicas de melhor velejar, um conjunto significativo de peças de artesanato e obras de arte, uma centena e meia de elementos de património edificado de apoio à baleação em todas as ilhas e ainda uma mão cheia de museus e centros de interpretação que perpetuam a memória, com especial relevo para o dos Baleeiros, no Pico”.

“Depois da baleação surge a observação de cetáceos, aplicando os conhecimentos acumulados pelos homens do mar aos novos propósitos”, afirmou, frisando que foram criadas “leis e regras modernas e dinâmicas que garantem a sustentabilidade da nova atividade”.

Filipe Porteiro disse ainda que se intensificou a investigação científica, biológica, histórica e social, bem como a política de conservação destas espécies classificadas e protegidas internacionalmente.

“Dignificou-se a cultura baleira passada aos olhos do presente”, sustentou, acrescentando que “hoje os Açores são um dos locais do mundo onde a herança cultural da relação do homem com as baleias é mais marcante, alicerce uma nova visão moderna da exploração sustentável dos oceanos e dos seus recursos”.


“O Governo dos Açores orgulha-se de estar profundamente envolvido com a sociedade na exaltação da beleza e do poder que estas emblemáticas criaturas marinhas têm para gerar progresso e identidade”, afirmou Filipe Porteiro.



GaCS

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