quarta-feira, 2 de maio de 2012

Intervenção do Presidente do Governo


Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, Carlos César, proferida hoje, nas Lajes das Flores, na cerimónia de inauguração do Centro de Resíduos da Ilha das Flores:


“A inauguração deste Centro de Processamento de Resíduos das Flores, que constituiu um importante investimento de cerca de 6 milhões de euros, tem um grande significado no âmbito desta nova geração de empreendimentos na área da gestão dos resíduos e das políticas ambientais: é o primeiro a ficar concluído, entre os sete centros desta tipologia que o Governo dos Açores decidiu construir.

Depois de um período em que se melhoraram os aterros sanitários e se procurou expandir a recolha separativa e a reciclagem, parte-se agora para uma abordagem devidamente planeada e integrada à gestão dos resíduos gerados nos Açores.

Com exceção das ilhas de São Miguel e Terceira, onde as quantidades geradas obrigam a soluções finais locais, as nossas ilhas estão a ser dotadas de uma rede de infraestruturas como aquela que hoje inauguramos, destinada a dar uma resposta local aos resíduos putrescíveis, através da sua estabilização por compostagem, e a separar, embalar e expedir os resíduos que são destinados a valorização fora da ilha, seja por reciclagem ou reutilização, seja por valorização energética através da sua utilização como combustível.

Os resíduos orgânicos aqui transformados em composto passam a constituir um recurso interessante para a horticultura e para a jardinagem, reduzindo a necessidade de importação de composto e de fertilizantes. Com isso, os materiais putrescíveis que agora nos envergonham nas lixeiras que desfeiam a ilha das Flores e algumas das nossas mais valiosas paisagens, passam, devidamente geridas, de lixo poluente a recurso com interesse económico, permitindo aumentar o autoabastecimento da ilha.

Os materiais recicláveis de qualquer natureza passam a ser aqui preparados para expedição e aproveitamento industrial fora da ilha. São materiais que mantêm um valor residual apreciável e que agora passam a poder ser reaproveitados, criando riqueza. Com a sua exportação cessa a acumulação de lixos não biodegradáveis nesta ilha, a maioria dos quais com tempos de permanência de séculos antes de se decomporem naturalmente.

Os materiais que por qualquer razão já não podem ser reaproveitados serão aqui separados e acondicionados para exportação, sendo utilizados para produzir energia nas ilhas Terceira e São Miguel. De facto, não faz sentido importar tantos combustíveis quando localmente os geramos: os resíduos combustíveis têm um valor calórico apreciável que deve ser aproveitado em benefício da nossa autonomia energética e da redução das emissões de gases para a atmosfera.

Embora a incineração de resíduos, no caso a sua valorização energética, possa parecer para alguns uma opção ambientalmente menos adequada, na realidade traduz-se na eliminação das emissões a partir dos aterros, onde esses resíduos necessariamente teriam de ser colocados, e numa economia de combustíveis fósseis que, para além de fazer sentido do ponto de vista da nossa economia, é vantajosa do ponto de vista ambiental. Os gases com efeito de estufa que são libertados pela decomposição dos resíduos nos aterros, em particular o metano, têm um potencial para acelerar as mudanças climáticas muito superior ao do dióxido de carbono que será emitido pela incineração. Com esta opção, ganha o ambiente, ganha a economia e ganha a eficiência energética. É essa a convicção que está na base das opções que tomámos.

Para além das valências de tratamento e de logística ligadas aos resíduos, este Centro também inclui uma oficina e espaços destinados a desmantelar viaturas, permitindo resolver o problema das sucatas e as questões legais e regulamentares ligadas aos veículos em fim de vida. Para além disso, pode aqui receber, estabilizar e embalar qualquer tipo de resíduo, desde os mais inofensivos aos resíduos perigosos de qualquer tipologia. Apenas os entulhos não podem aqui ser tratados.

Com as operações aqui realizadas gera-se também uma dinâmica socioeconómica: é mais uma empresa que se instala na ilha, são mais quatro postos de trabalho que se criam e mais uma oportunidade de modernização e consolidação do sector industrial e de serviços nas Flores.

Mas este Centro de Processamento é parte de um projeto global: tem associado o Centro de Processamento do Corvo, infelizmente ainda não concluído por dificuldades da empresa construtora, mas que estimamos fique operacional neste Verão, e infraestruturas que se encontram em construção ou em projeto em todas as ilhas.

No que respeita aos centros de processamento, apenas falta iniciar a obra de construção do centro da ilha do Faial, o que deverá ocorrer já no próximo mês. Quanto às instalações destinadas a receber os resíduos combustíveis não recicláveis, em São Miguel e na Terceira, a construir em colaboração com as respetivas associações e empresas autárquicas, já se encontram elaborados os seus projetos e consolidado o seu modelo de financiamento.

No caso da ilha de São Miguel, o Governo, como principal acionista, já deu indicações à EDA no sentido de participar no capital da empresa a constituir para a sua exploração, associando o investimento àquele que está a ser lançado para a construção de uma central hídrica reversível e colocando, por essa via, a penetração das energias renováveis na rede elétrica daquela ilha nos 70 a 75% – uma mudança de paradigma no abastecimento energético dos Açores.

Na Terceira também se encontram ultrapassadas as questões técnicas e financeiras iniciais, estando agora em negociação a entrada da energia produzida na rede da ilha, tendo em conta a estrutura produtiva já existente.

São grandes investimentos, mas são investimentos produtivos, capazes de aumentar substancialmente a nossa autonomia energética e, por essa via, contribuir significativamente para a diminuição de importações e o aumento do PIB dos Açores. O impacte ambiental positivo é igualmente relevantíssimo, começando já, neste caso, na ilha das Flores.

Quando em 2007 iniciámos os trabalhos conducentes à classificação da ilha das Flores como Reserva da Biosfera, na sequência das candidaturas bem-sucedidas do Corvo e da Graciosa, enaltecemos, obviamente, os aspetos deslumbrantes desta paisagem de verdes, castanhos e azuis. Ao mesmo tempo, identificámos os dois pontos fracos ambientais desta ilha: a proliferação de flora invasora, cuja resolução estamos a trabalhar, e a má gestão de resíduos. Com a concretização desta estrutura temos boas condições para anular este último aspeto negativo.

Esta obra, que integra o chamado Plano Estratégico de Gestão de Resíduos dos Açores, que estabeleceu o caminho a seguir e as metas a atingir, faz, pois, parte de um enorme investimento em curso – o maior projeto ambiental de sempre – nas nossas ilhas, que anulará um dos seus défices ambientais mais visíveis.

Terminámos, então, a fase de construção de um equipamento que tem a capacidade de receber todos os resíduos da ilha e dar-lhes o encaminhamento correto.

Evidentemente, a obra fica concluída, o investimento avultado e estrutural está acabado, mas o resultado efetivo sobre o ambiente apenas a partir de agora se fará notar.
Podemos, pois, dizer que o final desta obra tem o significado do princípio: do princípio de uma nova gestão e de uma nova prática ambiental com benefícios para os florentinos e para a imagem externa desta nossa ilha das Flores.

Parabéns a todos.”


GaCS

Sem comentários: