segunda-feira, 16 de abril de 2012

Intervenção do Presidente do Governo


Texto integral da intervenção do Presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, proferida hoje, na Sessão de homenagem alusiva aos 260 anos do povoamento açoriano, na Câmara Municipal de Porto Alegre, Brasil:


"Comemorar 260 anos de Povoamento Açoriano no Rio Grande do Sul é prestar homenagem ao esforço de toda uma geração de açorianos, compelida à então audaciosa travessia atlântica, para, a milhares de quilómetros da terra que os viu nascer, buscarem oportunidades e semearem proveitos que lhes assegurassem uma vida nova e prometedora.  

Ou seja, é comemorar o começo “do aqui” e o recomeço “dos que vieram”. É comemorar a origem do que nos une agora.

Esses homens e mulheres dessa gesta primeira para o Brasil, animados de sonhos venturosos, tudo fizeram para se integrarem no novo mundo que se lhes deparou, aquando da sua chegada às terras do extremo sul do Brasil. O seu espírito de sacrifício, alimentado pela sua profunda religiosidade, fez com que se adaptassem aos novos ambientes e às novas gentes que encontraram e com as quais haveriam de conviver e edificar um novo futuro.

Trouxeram consigo, para estas terras, a força do trabalho e da ambição e, ao longo de muitas décadas, empenharam-se na terra de promessa confirmada que conhecemos hoje.

A migração açoriana para o sul do Brasil, em meados do século XVIII, serviu para a concretização de um plano gizado pela coroa portuguesa com o fim de garantir a Portugal a posse das terras sulinas brasileiras, através da sua ocupação por gente também vinda dos Açores.

Embora este grande surto migratório, que movimentou milhares de pessoas que atravessaram o Atlântico e enfrentaram grandes desafios, tenha tido grandes repercussões e impacto na sociedade civil portuguesa, não lhe foi conferida, durante séculos, a merecida atenção. Porém, com o advento da autonomia regional dos Açores, em 1976, todas as comunidades açorianas espalhadas pelo mundo, tanto as ancestrais como as mais recentes, ganharam outra dimensão e outro estatuto e foi-lhes reconhecida a devida importância nos contextos regional e nacional.

A autonomia açoriana veio, pois, igualmente, valorizar e enriquecer a açorianidade e a portugalidade além-fronteiras. Para tal contribuiu a aproximação sucessiva que os Governos dos Açores fizeram e continuam a fazer às comunidades através de um relacionamento estreito com as instituições públicas e políticas dos países de acolhimento, bem como com as organizações de açorianos que se foram formando e que as representam nos países onde se encontram radicadas, desenvolvendo projetos visando a preservação e divulgação do património cultural que nos é comum. A CAERGS, apesar da ainda jovem, é um bom exemplo disso.

A preservação da cultura açoriana, a divulgação da açorianidade, a promoção da imagem dos Açores, o reconhecimento da importância dos açorianos como agentes fundamentais na construção dos países que os receberam são, hoje, constatações que valorizam as comunidades e prestigiam a Região.

Nos últimos anos, ao contrário do que acontecia no passado, os jovens descendentes de açorianos tomaram consciência desta realidade, sentem-se orgulhosos das suas raízes, procuram saber mais sobre os seus antepassados. Com frequência, descendentes de açorianos já de 8ª, 9ª e 10ª geração solicitam apoio técnico e financeiro para a efetivação de estudos acerca de, por exemplo, a presença açoriana no sul do Brasil, com vista à publicação de teses de licenciatura, mestrado e doutoramento sobre diversos aspetos da cultura açoriana ainda remanescente em muitos municípios sul-rio-grandenses e de outros estados brasileiros.

Este movimento de redescoberta, que ganhou um grande impulso nas últimas décadas do século passado, deu assim origem à publicação de estudos que muito contribuíram para o enriquecimento do espólio bibliográfico da emigração açoriana e para uma perceção mais clara, por parte dos açorianos de hoje, de uma das páginas mais belas da sua História.

Na verdade, o povo açoriano – habituado a ser mais do que lhe permite o seu número e a ultrapassar os limites estreitos do espaço que habita – mostrou bem de que era feito quando aqui, por força das circunstâncias, teve, uma vez mais, de transcender-se.

As estórias dos açorianos que povoaram este imenso estado são conhecidas e a História do Rio Grande do Sul já as guarda em bom lugar, desde logo porque a esta bela e impressionante Porto Alegre – que recentemente comemorou os seus 240 anos – ficaram para sempre ligados como seus fundadores.

Por isso, mais do que a evocação, embora inegavelmente merecida, da gesta desses bravos açorianos do século XVIII, importa – até para honrar os seus feitos e a sua memória – prosseguir, consolidar, tornar perene a ligação que iniciaram e encontrar novos mecanismos para dar sentido quotidiano e útil a essa união.

Já no decorrer desta visita tive a honra de subscrever, em nome do Governo dos Açores, um Protocolo de Cooperação com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, mas estou convicto de que esta cerimónia em que tenho a honra de participar contribuirá igualmente para esse desígnio de maior partilha e intercâmbio, que o mesmo é falar de uma nova época de redescoberta das potencialidades da ligação entre o Rio Grande do Sul e os Açores, esbatidas que estão, hoje, as distâncias entre os nossos povos e os nossos territórios.

É por isso que, em nome da Região Autónoma dos Açores e de todos os açorianos, agradeço à Comissão Organizadora o brilhantismo e dignidade conferidos às comemorações dos “260 Anos do Povoamento Açoriano do Rio Grande do Sul”, agradecimento que faço também, e de modo especial, à Câmara Municipal de Porto Alegre, na pessoa do seu Presidente.

Para um açoriano é uma honra e motivo de contentamento sentir-se parte de um povo que aqui, a mais de dez mil quilómetros das suas ilhas, é respeitado, admirado e querido, e que preza e destaca a sua memória. Registo, sempre nestas minhas visitas, esse facto, que é facilmente demonstrável pelo respeito das autoridades públicas, bem como pela diversidade da presença açoriana, seja nas muitas “salas açorianas”, predominantemente associadas aos municípios e prefeituras, que têm como objetivo principal o resgate e a valorização da cultura açoriana no Estado, seja através dos grupos musicais, de folclore e de dança, ou das irmandades do Espirito Santo, ou das iniciativas nos contextos escolares municipal, estadual e universitários, seja, ainda, na presença em geral nos variado domínios da vida económica e social do Estado do Rio Grande do Sul. 

Felicidades para todos e um agradecimento especial, em meu nome e no da minha mulher, em nome do Governo dos Açores e dos que me acompanham nesta visita, pela generosidade e simpatia que revelaram no nosso acolhimento. Obrigado e votos de sucessos."


GaCS

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