domingo, 18 de outubro de 2015

Cultura do chá testemunha capacidade dos Açorianos de vencer "todas as crises", afirma Avelino Meneses

O Secretário Regional da Educação e Cultura afirmou, na Lagoa, em S. Miguel, que a introdução da cultura do chá nos Açores, o seu desenvolvimento e persistência testemunham a "capacidade dos Açorianos de resistirem, enfrentarem e vencerem todas as crises".

Avelino Meneses, que falava sábado num evento promovido pela Confraria do Chá, relembrou as circunstâncias da adoção do cultivo do chá nos Açores, particularmente na ilha de S. Miguel.

"Estávamos na segunda metade do século XIX, os cereais, produção por excelência em todo o arquipélago, não rendiam quase nada no seu único mercado externo, o mercado de Lisboa. Por acréscimo, os nossos produtos de reputação internacional, a laranja, que frutificava nos pomares de S. Miguel, e o vinho, que jorrava do Pico e inundava o Faial, foram também atingidos pela propagação das pragas que de todo aniquilaram as laranjeiras e as videiras", salientou.

O resultado desta situação, segundo Avelino Meneses, "traduziu-se, como não poderia deixar de ser, na ruína dos empresários e na miséria dos trabalhadores", que recorriam "à aventura da emigração, quando não ao recurso à revolta", o que ocorreu "em quase todas as ilhas, inclusivamente no Corvo, em 1867".

"Perante a tragédia nem todos baixaram os braços. Sob a direção da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, onde pontificava uma elite de esclarecidos, porque não dissociada das angústias do povo, buscaram-se alternativas", frisou, acrescentando que essas alternativas foram "fundamentalmente duas, o ananás e o chá".

"É certo que nunca geraram, por si sós, uma prosperidade semelhante às dos cereais, do pastel, do vinho, da laranja e, depois, da pecuária. Todavia, aliviaram as agruras e possibilitaram a passagem para um tempo de mais progresso", afirmou Avelino Meneses.

Por tudo isto, segundo o Secretário Regional, devemos ter "muito respeito pelo chá que, por acréscimo, até evidencia qualidades terapêuticas".

Na sua intervenção, Avelino Meneses salientou ainda que os Açorianos, "escaldados" pela crise da segunda metade do século XIX, perceberam que, "mais do que económico, o problema era político", e, por isso, "aproveitando a agonia da monarquia, impuseram a Lisboa a primeira Autonomia, em 1895".

"O chá está também na origem da Autonomia", frisou, salientando que ela "é nem mais nem menos do que a nossa carta da alforria".



GaCS

Sem comentários: