quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Concluído restauro do órgão histórico da Igreja de Nossa Senhora da Guia


Encontra-se concluído o processo de restauro do órgão histórico da Igreja de Nossa Senhora da Guia, Museu de Angra do Heroísmo, levado a cabo pelo mestre organeiro Dinarte Machado, que logrou recuperar mais de 80% do conteúdo histórico sonoro do instrumento, numa totalidade de mais de 1000 peças.



O elemento mais importante deste restauro, suportado pelo Governo Regional, através da Direção Regional da Cultura, consistiu na recuperação dos tubos sonoros originais, cuja grande maioria faz parte do instrumento atualmente conservado e restaurado, garantindo que sua sonoridade seja muito próxima daquela para que foi construído.


O órgão histórico agora recuperado foi construído no ano de 1788, por António Xavier Machado e Cerveira, o mais conceituado organeiro português de todos os tempos, que construiu mais de cem instrumentos deste género. Este órgão, que ostenta o n.º 22, é um dos instrumentos mais antigos saídos de suas mãos e o mais antigo nos Açores, obedecendo a regras de construção muito próprias da escola de organaria portuguesa do século XVIII, que caracterizam o órgão português e que permitem distingui-lo dos construídos por outras escolas.


A investigação efetuada por Dinarte Machado permite concluir que um número deveras elevado de órgãos foi construído por António Xavier Machado e Cerveira para os Conventos Franciscanos, destacando-se, de entre eles, o do convento de São Francisco de Angra do Heroísmo, propositadamente encomendado para este espaço, como testemunham as insígnias do florão sobre o castelo de tubos central.


Trata-se de um instrumento dos mais curiosos do ponto de vista da sua organização interna, pois a sua composição revela o que era solicitado a um instrumento do género naquela época. A registação proporciona acentuados registos de mutação e a existência de dois pisantes permite criar planos sonoros diferentes, o que era uma prática exigida pelo modelo da polifonia daquele tempo.


A sua colocação, junto ao coro-alto, numa tribuna do lado do Evangelho (lado esquerdo dos fiéis), virado para a nave central, é também de realçar, dado que se trata atualmente do único órgão a permanecer no seu local original. Esta colocação, além de permitir que os frades exercessem o seu dever de louvar a Deus pelo canto, sem se misturarem com os leigos ou frades menores, facultava igualmente a aparência de um certo “mistério”, escondendo os intervenientes que não deviam aparecer, como é o caso dos foleiros.


Este instrumento, que já se encontrava em muito mau estado, foi atingido, aquando do sismo de 80, pela derrocada parcial de um dos arcos da igreja de Nossa Senhora da Guia, sendo desmontado em 1981, sem que tivessem sido deixadas referências de desmontagem, o que levou a que a atual recuperação dentro dos traços originais se convertesse num trabalho moroso de investigação.


A caixa foi também alvo de intervenção paralela, por parte dos técnicos das oficinas de restauro da Divisão do Património Móvel e Imaterial da Direção Regional da Cultura, de modo a consolidá-la e a restitui-la à sua configuração original, retirando-lhe aberturas e funcionalidades introduzidas no século XIX.


Com a recuperação deste órgão, conclui-se o restauro de todos os órgãos históricos angrenses.



GaCS

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