Texto integral da intervenção do Secretário Regional dos Transportes e Turismo, Vítor Fraga, proferida hoje, em Angra do Heroísmo, na sessão de abertura do XXIX Congresso da APAVT - Associação Portuguesa das Agências de Viagem e de Turismo:
“Esta é a terceira vez em que é dado aos Açores o privilégio de receber, com a hospitalidade de sempre, os congressistas da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo.
Permitam-me pois que vos transmita, em nome de Sua Excelência o Presidente do Governo dos Açores, que, por motivos de força maior, não pôde estar presente nesta cerimónia, que é com grande satisfação que acolhemos, novamente, este grande evento, que, na verdade, até pode ser considerado como o congresso do turismo português.
Este congresso decorre no culminar de um ano em que os Açores foram considerados Destino Preferido da APAVT, um título que muito nos honra e que, certamente, se traduziu também como uma mais-valia, tanto para os associados desta associação, como para nós.
Agradeço à direção da APAVT, na pessoa do seu presidente e a todos os seus associados, a confiança e a colaboração que nos têm dado ao longo desta caminhada que temos feito sempre em conjunto.
Em 1995, aquando da realização deste congresso pela primeira vez nos Açores, o turismo, no âmbito das políticas públicas, existia apenas porque tinha de existir: não era fruto de uma visão estratégica que lhe desse o devido enquadramento e a importância vital para o desenvolvimento da Região.
Vivia-se, então, numa espécie de ciclo vicioso, o qual, ao nível das entidades públicas, era marcado por uma incapacidade de ultrapassar o seguinte dilema:
Como não havia turistas, não era necessário ter hotéis. Como não havia hotéis, não se afigurava importante obter turistas para os Açores.
Enquanto outros destinos portugueses consolidavam ainda mais a sua notoriedade, os Açores continuavam em lista de espera, reservando as suas belezas naturais para uns poucos que se aventuravam em visitar estas ilhas, quase que por sua conta e risco.
Esta situação foi, no entanto, alterada, no decorrer dos últimos 17 anos.
O turismo passou a ser assumido pelo Governo dos Açores como um setor estratégico para a economia regional, até então fechada sobre si mesma e assente quase exclusivamente no setor primário.
Como tudo na vida, não basta dizer, é preciso fazer, é preciso fazer acontecer!
Assim, num trabalho conjunto entre os setores público e privado, criámos infraestruturas e acessibilidades, apoiamos a construção de oferta hoteleira e a disponibilização de animação turística e estruturámos a formação profissional, ou seja, definimos a nossa matriz, o nosso posicionamento, a política de promoção, enfim, construímos as bases de um verdadeiro destino turístico.
Hoje, o Governo dos Açores assume e reforça a sua convicção no turismo como um setor estratégico para o desenvolvimento da Região, o qual, dada a sua transversalidade, não se esgota por si só, afirmando-se, antes, como força indutora de desenvolvimento de outros setores.
Nós sabemo-lo e estamos cá para, em conjunto com todos os parceiros - locais, regionais, nacionais e internacionais - continuarmos esta caminhada, visando a sustentabilidade do setor e de todos os seus atores.
A singularidade das nossas paisagens, aliada a políticas de valorização e preservação ambiental, levou a que fossemos distinguidos e reconhecidos, a nível internacional, como o melhor destino turístico “verde” da Europa, recebendo o “Quality Coast GOLD” e liderando a lista do “turismo verde” desde 2012.
Orgulha-nos que a organização destes prémios tenha salientado o facto de termos sabido tirar partido da nossa política de produção tradicional, especialmente no que diz respeito ao vinho, ao queijo, à fruta, ao chá e ao atum, ou o facto de termos sido classificados pela conceituada revista National Geographic como as “Segundas Melhores Ilhas do Mundo”, na esfera do Turismo Sustentável.
Julgo que esta realidade é bem demonstrativa do caminho que temos percorrido e que queremos continuar a percorrer.
Neste sentido, temos vindo a desenvolver produtos que marcam a nossa identidade como, por exemplo, o mergulho, em que criámos reservas marinhas, com a envolvência e colaboração de todos, inclusive da nossa comunidade piscatória.
A observação de cetáceos, que a European Coastal & Marine Union' (EUCC) enalteceu como sendo uma forma bem conseguida de ultrapassar a desvantagem provocada pela proibição internacional à baleação comercial.
O mergulho com tubarões e jamantas que já trabalhamos como novas oportunidades a não desprezar.
Ou ainda o geoturismo com o desenvolvimento de centros interpretativos, como o dos Capelinhos, na Ilha do Faial.
Ou o pedestrianismo, com uma rede regional que possui mais de 60 percursos homologados.
Sendo que neste produto temos feito uma aposta muito decidida com uma rede que se estende a todas as ilhas da Região, valorizando o nosso território e implicando a dedicação e a intervenção de dezenas de homens e mulheres no sentido de proporcionar as melhores experiências a quem nos visita.
Criámos igualmente condições para o desenvolvimento do “meeting industry”, com a construção de excelentes centros de congressos, como este em que nos encontramos hoje, em Angra do Heroísmo.
Potenciámos desportos como o Surf, onde os Açores são já um dos locais mais apreciados pelos seus praticantes pela diversidade e qualidade das nossas ondas, ou como o Windsurf, sendo a baía da Praia da Vitória um autêntico santuário para os amantes da modalidade.
Não esquecemos ainda o Golf, com três campos, um aqui na Ilha Terceira e dois em São Miguel, com qualidade e enquadramento invejáveis, que proporcionam momentos únicos a quem nos visita.
Além disso, temos uma herança histórica e cultural rica e diversificada para ser redescoberta.
A cidade de Angra do Heroísmo ou a Paisagem Protegida da Cultura da Vinha do Pico, elevadas a Património Mundial pela UNESCO, são apenas dois excelentes exemplos.
Somos, assim, um destino com identidade, cada vez mais organizado, em que cada um dos intervenientes sabe cada vez melhor o que faz e o que tem de fazer, quer aqueles que estão diretamente na cadeia de valor do setor, quer todos os outros, cuja ação direta e indireta contribui para a caracterização e valorização do destino.
Assumimo-nos como um destino assente numa Matriz de Natureza que vai muito para além da sua componente contemplativa, possibilitando experiências únicas e desfrutando de uma natureza ativa, capaz de proporcionar emoções inigualáveis a quem nos visita.
Transmitir a todos esta capacidade de criar emoções positivas, de surpreender e suplantar as melhores expectativas de quem nos visita é um dos nossos grandes desafios, com vista a fidelizarmos e angariarmos mais fluxos turísticos.
Para concretizar este desafio, contamos naturalmente com todos vós.
Nesta atividade, que já representa cerca de 4% do PIB regional, a par da captação de mais turistas, pretendemos caminhar para uma segmentação em mercados com maior potencial, concretizando a aposta de, nos próximos dez anos, os Açores se assumirem como o principal destino de turismo de natureza do país e, em especial, um dos principais destinos do turismo ligado ao mar no Atlântico.
Para isso, temos de assumir todos como desafio que o produto oferecido tem que ser substancialmente melhorado, não só no que se refere às unidades hoteleiras, com a requalificação das que são indiferenciadas, como também quanto aos serviços paralelos, criando aqui mais atividades e produtos a adquirir pelos turistas.
Pretendemos, por isso, aumentar, em quantidade e sempre com qualidade, as fontes de rendibilidade deste setor, passando da realidade atual em que esta assenta, essencialmente, no alojamento e na restauração, para outra em que se multipliquem as atividades e os produtos turísticos comercializáveis.
De acordo com os indicadores disponíveis, neste momento, somos a região do país com melhor desempenho no número de dormidas, atingindo quase o dobro do crescimento da média nacional, isto fruto da forte presença de turistas estrangeiros (com um aumento de 22,6% em relação ao período homologo do ano anterior), crescimento este que surge na sequência de uma aposta continuada de promoção junto destes mercados.
O mercado nacional, que tem tido um comportamento de queda, face às dificuldades impostas às famílias portuguesas, que afetaram e afetam sobremaneira o perfil de turista que nos visitava, continua a ser importante para nós, pois, embora o número de turistas estrangeiros já suplante em muito o número de turistas nacionais, este continua a ser, em termos individuais, o nosso principal mercado.
Continuaremos, assim, a trabalhar afincadamente, dando seguimento à estratégia de reposicionamento do destino, colocando-o na órbita de segmentos de mercado que, tendo apetência pela nossa oferta, ainda podem usufruir de umas merecidas férias.
Neste sentido, decidimos alargar a “Campanha das Famílias” às férias de Natal, Carnaval, Páscoa e ao verão de 2014, consolidando-nos como um verdadeiro destino para as famílias portuguesas.
Desenvolvemos uma nova campanha exclusiva para o mercado nacional, intitulada “Ofereça uma Ilha”, que possibilita aos turistas nacionais, sem qualquer acréscimo de custo, usufruírem dos encantos de uma segunda ilha, à escolha, em todos os pacotes dos operadores que programam o nosso destino.
Colocamos igualmente um grande empenho na entrada em vigor das novas obrigações de serviço público de transporte aéreo no próximo ano, conforme compromisso do Governo da República, de modo a que estas possam servir os Açorianos e a economia dos Açores, em particular, o setor do turismo em toda a extensão do seu potencial.
Mas não ficaremos por aqui: queremos, com todos vós, continuar a definir e a implementar estratégias conjuntas que permitam ultrapassar estes momentos de uma forma sólida, consistente e sustentada.
Vivemos, a todos os níveis, num mundo em constante mutação, em que a realidade de hoje já não será a de amanhã e esta inconstância permanente reflete-se, evidentemente, no turismo.
As pessoas não deixaram de viajar: viajam apenas duma maneira diferente. Alteraram-se os hábitos de consumo, pelo que se torna imperioso conhecer o perfil do novo turista, de forma a ir ao encontro das suas expetativas e, por esta via, adaptar a nossa oferta turística à procura.
Assumimos como grande desígnio transformar os Açores num destino de excelência, aproveitando e majorando as nossas características únicas.
Reitero aqui, perante todos vós, o compromisso por mim assumido de que o Governo dos Açores continuará a ser um parceiro, nos bons momentos e nos menos bons, certo de que esta será também a vossa atitude, como sempre tem sido.
Reitero, igualmente, o compromisso de continuarmos a trabalhar para que o setor seja sustentável e continue a gerar confiança junto de todas as entidades que trabalham, de uma forma direta ou indireta, o destino.
Ativaremos todos os mecanismos que temos ao nosso alcance para que os empresários tenham confiança e possam desenvolver a sua atividade de uma forma sustentada.
É, pois, com base nesta visão que, no próximo ano, iremos definir o Plano Estratégico para o Turismo dos Açores, assumindo o horizonte 2020, através de um processo que deve tirar efetivamente partido do conhecimento profundo daqueles que trabalham e conhecem o destino como ninguém.
Este será, assim, um processo em que todos serão chamados a dar o seu contributo ativo, porque percebemos a importância do planeamento e do alinhamento claro de estratégias entre entidades públicas e privadas.
Essa necessidade assume redobrada pertinência também perante o Plano Estratégico Nacional do Turismo, que, no que aos Açores diz respeito, não soube atender aos contributos de quem efetivamente conhece o destino, cometendo erros básicos, como na classificação dos mercados emissores ou na caracterização dos diversos produtos.
Tal como vos tenho vindo a descrever, em 2014, o setor do turismo nos Açores enfrentará desafios estruturais.
Daí que este congresso surja no momento certo, representando um corolário do desenvolvimento de um trabalho conjunto que colocou os Açores como “Destino Preferido da APAVT em 2013” e uma antecâmara que nos coloca como “Destino Preferido da ECTA em 2014”, o que muito contribuirá para aumentarmos os nossos níveis de notoriedade.
Neste contexto e nestas circunstâncias, a sua realização na Região assume uma maior importância, reunindo nos Açores os principais parceiros da indústria turística nacional, dos quais permitam-me destacar os agentes de viagens, pelo seu papel imprescindível na distribuição e comercialização de um destino turístico, assim como os agentes de viagens locais, pelo empenho, dedicação e profissionalismo colocados na receção de todos quantos nos visitam.
Deixo também aqui um agradecimento especial ao Presidente da APAVT. Pedro, meu caro amigo: não posso deixar de destacar e enaltecer o empenho e a dedicação com que assumiste este desafio de realizar, uma vez mais, nos Açores e mais concretamente nesta Cidade Património Mundial este que, estou certo, será um magnífico Congresso. Muito Obrigado!
Agradeço ainda ao Senhor Secretário de Estado do Turismo por nos honrar com a sua deslocação aos Açores: um destino turístico que, estou certo, é motivo de grande orgulho para o nosso país!
Estou confiante de que este será o momento para partilharem experiências, para refletirem e congregarem as melhores soluções em prol do turismo.
Atendendo à excelência dos oradores e à pertinência e relevância dos temas que serão abordados durante estes quatro dias, acredito que serão encontradas estratégias promissoras para o futuro do turismo nacional, enquanto um dos mais fortes instrumentos de reanimação da economia e da criação de riqueza e de emprego no país e nos Açores.
Bem-vindos a Angra do Heroísmo.
Bem-vindos aos Açores.
Muito obrigado.”
GaCS
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