O Subsecretário Regional da Presidência para as Relações Externas destacou a importância de evocar exemplos do passado para melhor compreender causas que se renovam no tempo, de modo a evitar novos confrontos à escala global.
Rodrigo Oliveira, numa intervenção sobre o centenário da I Guerra Mundial, alertou para algumas “nuvens negras” que pairam atualmente sobre a Europa, não apenas os conflitos a sul e a leste das suas fronteiras, mas também no seu próprio seio, a exemplo dos recentes ataques terroristas.
O Subsecretário Regional, lembrando a multiplicidade e complexidade de causas que levaram ao eclodir da guerra na Europa, salientou a “atualidade de fenómenos que se repetem 100 anos depois, embora em diferentes formas, como os nacionalismos extremos, a xenofobia e o perigo de, através da democracia, serem eleitos representantes e partidos contrários aos valores fundamentais da liberdade”.
Na intervenção que proferiu segunda-feira em Ponta Delgada, no encerramento do Colóquio 'Portugal, os Açores e a Grande Guerra', Rodrigo Oliveira defendeu que “as soluções para os problemas comuns têm que ser procuradas em conjunto”, alertando para os perigos que podem decorrer para a Europa das pretensas divisões, que alguns querem fazer renascer, “entre norte e sul, entre centro e periferia, entre ricos e pobres ou entre credores e devedores”.
O Subsecretário Regional recordou ainda alguns episódios ocorridos nos Açores durante o primeiro conflito mundial, frisando que representam “momentos em que, uma vez mais, os Açores foram determinantes e prestaram um serviço a Portugal, à relação transatlântica, à Europa e que merecem também uma reflexão à luz dos nossos dias”.
A defesa heróica do paquete ‘São Miguel’ pelo caça-minas ‘Augusto Castilho’ foi um dos episódios recordados por Rodrigo Oliveira, que salientou, depois da batalha, a recolha pelo submarino alemão de alguns marinheiros portugueses, permitindo-lhes depois que embarcassem num pequeno bote, numa demonstração de que “mesmo em guerra, existem regras fundamentais nas relações entre os Estados e os Homens”, mas que são atualmente desrespeitadas por todas as formas de terrorismo “ao arrepio de qualquer valor ou regra básica do Direito Internacional e da Humanidade”.
Entre outros acontecimentos, referiu também o depósito de centenas de alemães e austro-húngaros na ilha Terceira, entre os quais portugueses a quem foi retirada a cidadania “apenas por serem filhos de cidadãos de estados inimigos”, o que faz refletir sobre “a condição dos inocentes e dos perigos de generalizações, seja por via da nacionalidade, como então, ou, hoje, de grupos étnicos ou religiosos”.
A Grande Guerra marca também, lembrou o governante, o início do segundo movimento autonomista, através da “realização de que, uma vez mais, o Estado não é capaz de prover às necessidades dos Açores e dos Açorianos, nomeadamente em termos de defesa, ao que acresce a valorização da presença norte-americana, levando mesmo a correntes separatistas e federalistas”, que se desenvolveram nos anos do após-guerra.
Rodrigo Oliveira referiu ainda o episódio da defesa de Ponta Delgada contra o ataque de um submarino alemão pelo navio norte-americano ‘Orion’ e a subsequente criação de uma base naval dos EUA, bem como a ação do Almirante Dunn no combate à gripe pneumónica, o que levou ao estabelecimento de uma “relação privilegiada” de estima pelos locais.
“A amizade entre os povos não depende exclusivamente da ação de uma entidade ou de uma decisão em concreto, mas pode ser certamente aprofundada, beneficiada, por ações de solidariedade e de amizade”, como é exemplo o Almirante Dunn, afirmou Rodrigo Oliveira.
GaCS
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