sexta-feira, 20 de novembro de 2009

UM ANO DEPOIS DE MUDAR CONSTITUIÇÃO Fundação INATEL "afastada" da realidade açoriana




O presidente do conselho de administração da Fundação INATEL reconhece a ligação distante entre os Açores e Lisboa, em termos administrativos. Vítor Ramalho falou ainda à “a União” sobre a hipótese de construção de uma pousada em Angra do Heroísmo e a pouca procura pelo Complexo de Piscinas.

Passado um ano do INATEL – Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores, I. P., ter sucedido a Fundação e a instituição de um grupo privado de utilidade pública, bem como as “delegações” a “agências”, procurámos perceber que mudanças trouxeram essas medidas aos Açores.

No caso da Agência da ilha Terceira, particularmente, situada na Rua da Miragaia, em Angra do Heroísmo, e depois de o nosso pedido de entrevista ter sido reencaminhado para a sede em Lisboa, questionámos o presidente sobre a aparente relação distante entre a Região Autónoma dos Açores e o continente.

Em declarações à “a União”, Vítor Ramalho reconhece que encontrou, aquando da sua tomada de posse, “um forte desconhecimento, na sede, pelo que se passava na então delegação dos Açores, em múltiplos domínios, inclusive administrativos”, mas afirma que “a situação está a inverter-se”.

“No futuro essa relação será inevitavelmente mais estreita, porque o facto de termos, pela primeira vez na história da instituição aberto duas unidades hoteleiras imporá que assim seja”, considera o primeiro responsável pela Fundação Inatel (FI), acrescentando que essas unidades foram abertas com consciência “da importância futura que ambas terão na atracção turística das duas ilhas, Graciosa e Flores”.

Por conseguinte, e tendo em conta a extinção do cargo de “delegado”, a questão coloca-se sobre a hipótese de tais alterações poderem ter dado origem a uma “centralização de poder”, uma leitura totalmente rejeitada pelo representante máximo dessa instituição nacional.

“A alteração da denominação [“delegação” para “agência”] pretende fazer vingar a ideia de que há agora uma forte componente comercial a prosseguir, sem quebra dos objectivos sociais da Fundação”, justifica. E continua: “E dentro dessa forte componente uma maior agressividade de intervenção junto dos beneficiários, do público em geral e das instituições”.

Em tom de conclusão sobre esta matéria, Vítor Ramalho diz ainda que todas essas mudanças constitucionais, portanto, trouxeram mais-valias para a actividade da instituição e para a sua relação com o arquipélago, salientando o facto de as alterações contemplarem a quebra parcial de dependência com o Governo.

“A natureza jurídica de uma Fundação possibilita uma gestão muito mais ágil e mecanismos de intervenção mais expeditos, quebrando-se a quase total dependência da tutela governamental que anteriormente existia e era indispensável intervir em quase todos os actos”, argumenta.

Filarmónicas sem festival

As regalias indicadas pelo presidente, no entanto, parecem contradizer a actividade da FI na ilha Terceira, nomeadamente na área cultural.

Por ordem dos órgãos máximos, este ano não se realizou a oitava edição do Festival de Filarmónicas organizado pela Agência local, em Outubro, um evento que visa fundamentalmente a promoção das bandas durante o período de Inverno, altura do ano em que se registam menos actuações públicas.

Confrontado com os estatutos da FI, que prevêem o “apoio e promoção da cultura tradicional (ranchos folclóricos, bandas filarmónicas, orfeões e grupos corais e de teatro amador)”, Vítor Ramalho reage sublinhando que “a cultura tradicional portuguesa está presente desde a primeira hora na instituição”.

“O que sucede é que em resultado de obrigações estatutárias decorrentes da natureza fundacional que hoje existe, tivemos de proceder a uma profunda reestruturação, inclusive na área cultural”, justifica.

Assim, entendendo-se a interrupção como um acto de transição, o presidente aponta um futuro risonho para a prestação da FI no contributo prestado à cultura popular. “Em circunstância alguma faremos diminuir o contributo que a Fundação tem e deve prestar à cultura popular nos domínios da música, do teatro, da etnografia e do folclore”, assegura.

Piscinas “pouco utilizadas”

Já a propósito do Complexo de Piscinas, situado no Cerrado do Bailão, admite verificar-se actualmente menos afluência de praticantes de natação. Em causa, revela, está o aumento da oferta local, o que no seu entender contribui para evitar a estagnação da actividade primordial.

“Isso é muito positivo porque nos obriga a novas respostas impostas pela maior competitividade, a que temos de responder”, considera Vítor Ramalho, reforçando a atenção especial por parte da instituição. “Estamos muito atentos ao que se passa e por essa razão ainda recentemente fizemos deslocar aos Açores o secretário geral e o coordenador da agência da Fundação com o propósito de preparamos soluções para o futuro, fazendo crescer a procura das nossas unidades e no caso particular das piscinas”, declara.

As piscinas do INATEL, inauguradas no ano de 1993, sofreram interrupção das actividades entre 2003 e 2005, por motivo de obras.

Hoje em dia as práticas de natação abrangem as vertentes de aperfeiçoamento, competição e hidroginástica, em estruturas de 25 metros de comprimento e 12 de largura, constituídas por seis pistas com 2 metros de largura e possuem uma bancada com capacidade de 300 lugares.

Nova pousada e programa 60+

Sabendo-se que foi perspectivada, em tempos, a construção de uma nova pousada em Angra do Heroísmo, o ex-deputado da bancada do Partido Socialista adianta que o projecto ainda existe. Mas os pormenores mantêm-nos no ‘segredo dos deuses’, adiantando apenas que no momento a FI e o Governo dos Açores estão em conversações.

“Estamos a ponderar exactamente a solução mais adequada para Angra do Heroísmo e a eventual edificação de uma pousada é uma delas, o que aliás já implicou contactos com o governo regional dos Açores ao mais alto nível”, diz, sem revelar pormenores.

Quanto ao plano de actividades previsto para 2010, a nível Açores, destaque para o turismo sénior e o programa 60+ na área do turismo social e a divulgação de programas junto dos países nórdicos, sendo que, neste domínio, o marketing “será suportado em actividades complementares, do desporto e da cultura”.

“Explorando os vários recursos que os Açores e todas as suas ilhas têm, para além do oceano e do que ele potencializa em actividades náuticas e de desporto”, conclui Vítor Ramalho.

Há 74 anos

Fundada em 1935, conforme a informação disponível no sitio oficial da internet, a INATEL define-se como uma Fundação prestadora de serviços sociais, nas áreas do turismo social e sénior, do termalismo social e sénior, da organização dos tempos livres, da cultura e do desporto populares, estando presente em todo o território nacional e regiões autónomas com uma rede de 22 agências.

A sua obra abrange uma massa associativa que ronda os 250 mil associados individuais e os 3 500 associados colectivos.

Sónia Bettencourt
Fonte: A União

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