Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, Vasco Cordeiro, proferida hoje, em Ponta Delgada, no seminário Para Lá da Época Alta – Promover o Turismo Sustentável ao Longo de Todo o Ano:
“Permitam-me que comece por saudar todos os membros do Comité das Regiões, representantes da Comissão Europeia e demais participantes internacionais presentes neste Seminário, agradecendo a todos pela vossa presença e pela visita aos Açores.
Espero que os dois dias de trabalho, considerando quer a reunião da Comissão de Recursos Naturais, quer este seminário que hoje realizamos, vos tenham permitido conhecer melhor a realidade destas ilhas e, por essa via, terem uma melhor visão de alguns dos desafios com que nos confrontamos, enquanto Região Ultraperiférica da Europa.
Os dias que vivemos hoje na União Europeia exigem de todos nós, enquanto cidadãos e enquanto líderes políticos regionais, um maior esforço de aprendizagem e de compreensão das diferentes realidades regionais e da sua valorização e promoção junto dos demais protagonistas.
Esse é, no fundo, o grande desafio da nossa presença neste projeto comum da integração europeia e mesmo enquanto membros do Comité das Regiões: fazer com a que União seja valorizadora da diferença, respeitadora das particularidades e aberta nos seus propósitos de promover a coesão social, económica e territorial de todo o espaço comunitário.
Qualquer passo noutra direção seria promover o regresso da Europa, dos seus Estados e das suas Regiões ao isolamento e à desagregação que marcaram outros tempos.
Os princípios que atrás enumerei aplicam-se, de resto, também ao tema que ocupará os debates desta manhã neste seminário: ou seja, como é que a União Europeia, através da ação política, legislativa e programática das suas instituições, mas em estreita colaboração com os Estados Membros e com as Regiões, pode ajudar a promover mais e melhor turismo nas nossas regiões e combater os efeitos da sazonalidade.
Creio que esse desiderato só será plenamente atingido se a União promover a abertura de todo o espaço comunitário, apoiar as interligações e a conetividade em todo o território – particularmente naqueles que estão mais distantes ou que, estruturalmente, necessitam de mais apoio - valorizando a diferença e a riqueza histórica, cultural, paisagística e ambiental das diferentes regiões.
Para se ter bem a ideia do imenso potencial que temos de aproveitar, basta referir que,
- De acordo com a Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas, a Europa é a zona mais visitada do mundo, sendo responsável, em 2011, por mais de metade de todas as chegadas de turistas internacionais em todo o mundo;
- Também em 2011, cinco dos dez melhores países no mundo para visitantes internacionais foram Estados-Membros da UE.
- Como resultado de tudo isso, a indústria do turismo tornou-se um setor-chave da economia europeia, gerando mais de 10% do PIB da UE (direta ou indiretamente), empregando cerca de 10 milhões de cidadãos e envolvendo cerca de 1,8 milhões de empresas.
Estes dados provam que, mesmo no contexto da crise internacional, este foi um setor que continuou a crescer na Europa e a posicionar-se como uma importante fonte de receita e de criação de empregos.
Do ponto de vista da ação da União Europeia, o Governo dos Açores vê com satisfação natural uma atenção reforçada às matérias relacionadas com este setor e, em particular, ao turismo costeiro e marítimo, materializada na estratégia apresentada pela Comissão Europeia, em fevereiro último.
Para que os objetivos dessa estratégia de promoção do crescimento e do emprego possam ser transformados em resultados concretos, exige-se, contudo, uma maior atenção e uma maior articulação também em políticas como dos transportes e da conetividade, da formação profissional e dos recursos humanos e na possibilidade de financiar investimentos estruturantes para a promoção de destinos turísticos europeus ou para a acessibilidade a estes destinos.
Entendemos, pois, que a Comissão Europeia deve assumir uma ação mais visível de promoção e suporte na divulgação da diversidade e da riqueza dos destinos europeus, para que possa complementar os esforços desenvolvidos por entidades públicas, operadores privados e agentes económicos ao nível regional e local.
Este é um setor onde, claramente, a uniformização e a padronização são estratégias inimigas da concretização de resultados positivos em benefício das Regiões.
É, também, um setor onde é necessário reforçar a cooperação e a complementaridade de políticas comunitárias com as estratégias regionais e com a ação dos agentes económicos locais.
Pela nossa parte, responderemos sempre presente quando se tratar de encontrar respostas para tão grandes desafios como a sustentabilidade turística, a sazonalidade e, por via disso, dar o próximo passo em matéria de turismo sustentável.
Sabemos que o conceito “sustentável” está relacionado com uma extensa panóplia de soluções possíveis para satisfazer os anseios de quem nos visita, mas devemos fazê-lo tendo a atenção de nunca subjugar aos interesses económicos imediatos a qualidade e a preservação ambiental e paisagística.
Nos Açores, temos feito tudo para garantir o crescimento económico deste setor sem comprometer os valores ambientais que nos diferenciam, sendo fundamental que possamos alargar esse crescimento e essa dinâmica ao longo do ano inteiro.
A sazonalidade assume-se, assim, no caso dos Açores, como um desafio concreto e presente.
Ambicionamos, desde logo, - e estamos a trabalhar para o conseguir - ser um Destino de Excelência, rentabilizando pontos fortes como a nossa relação com o Mar, a qualidade do nosso ambiente, uma arquitetura urbana valorizada e protegida, uma gastronomia rica e variada com produtos diferenciadores, a que se junta o elevado nível de segurança em todas as ilhas.
Apostamos nessa oferta diversificada, inspirada nas principais motivações da procura turística internacional, assente numa matriz de “Natureza Ativa”.
As palavras “sustentabilidade” e “sazonalidade” têm estado, pois, presentes, embora em níveis diferentes, na nossa política de turismo e são a envolvência em que se definem e pretendem implementar os nossos projetos.
Sabemos que são muito elevados os níveis de competitividade que enfrentamos, mas acreditamos que com uma aposta contínua em maior notoriedade, destacando aquilo é único, atingiremos um patamar de grande atratividade para um público próprio que procura exatamente esta convivência entre a natureza e o homem, numa simbiose perfeita de entendimento ambientalmente responsável.
É, assim, com base em tudo isto que, com muito gosto, acolhemos a realização deste seminário, por aquilo que ele nos permite, não apenas de partilharmos as nossas experiências neste domínio, mas, sobretudo, de aprendermos.
Nós, desde logo pela juventude do nosso setor turístico, temos, efetivamente, de estar abertos à possibilidade de aprender com as experiências de outros.
É por isso que a realização deste seminário nos Açores, a par da reunião da Comissão de Recursos Naturais do Comité das Regiões, assume tão grande importância e pode constituir um contributo efetivo para a análise de um dos principais desafios com que o turismo dos Açores está confrontado.
Muito obrigado.”
GaCS







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