segunda-feira, 24 de agosto de 2009

260 cetáceos já têm nome próprio nos Açores





As fotografias de amadores podem ajudar os investigadores a identificar cetáceos e a estudar os seus padrões de comportamento. Investigadores pedem a ajuda de todos para criação de catálogo.

As fotografias de golfinhos e baleias tiradas nos mares dos Açores por um turista ou um fotógrafo amador podem ter interesse científico.

Por essa razão, o Centro de Investigação dos Recursos Naturais da Universidade dos Açores (CIRN) criou o blogue azoresphotoid.blogspot.com, para partilha de informação e o email azoresphotoid@gmail.com, através do qual qualquer pessoa pode enviar as suas fotografias de cetáceos, indicando o nome do autor, o local da fotografia, a data/hora do encontro e se for o caso, a empresa de "Whale Watching" com a qual saiu para o mar.

Se permitirem aos investigadores identificar características únicas dos animais, as fotografias são integradas numa base de dados, a partir da qual o CIRN está a criar um catálogo de foto-identificação de cetáceos dos Açores – o Azoresphotoid – onde cada cetáceo tem uma designação própria. Como explica José Azevedo, professor de Biologia da Universidade dos Açores responsável pelo projecto, a foto-identificação é uma ferramenta científica muito poderosa para estudar vários aspectos da biologia e da ecologia dos cetáceos, desde a estrutura social até padrões de residência e migrações, bem como taxas de reprodução.

É utilizada por várias equipas de investigação nos Açores que têm os seus próprios catálogos e trabalham em interligação entre si e com organismos internacionais. Mas o Azoresphotoid diferencia-se, porque está disponível na internet em www.flickr.com/photos/azoresphotoid (qualquer pessoa pode aceder à informação e utilizá-la, desde que para fins não lucrativos e referindo a origem), e porque tem como principal objectivo recolher as centenas de fotografias feitas todos os dias por amadores nas várias ilhas do arquipélago, para juntá-las às realizadas por investigadores.

"Temos nos Açores muitas empresas de "Whale Watching", muitas pessoas que saem para o mar e tiram fotografias, levam as fotografias para casa, mostram aos amigos", desconhecendo que "essas fotografias podem ter interesse científico", repara José Azevedo. Foi a partir dessa constatação que "surgiu-nos a ideia de criar um local onde as pessoas pudessem enviar essas fotografias para serem aproveitadas do ponto de vista científico", explica.

260 cetáceos com nome próprio

No catálogo, estão já identificados 200 roazes, 30 cachalotes e 30 golfinhos de Risso. São 260 cetáceos com nome próprio.

Como adianta José Azevedo, "temos vários milhares de fotografias", mas em www.flickr.com/photos/azoresphotoid está disponível apenas uma parte do material recolhido, porque o CIRN ainda está a processar a informação. O biólogo adianta que a foto-identificação está a permitir aos investigadores concluir que há cetáceos a fazer dos mares dos Açores a sua residência e a contrariar a ideia generalizada de que os cetáceos se distribuem pelos oceanos todos e fazem grandes migrações. "Isso é verdade para algumas espécies, mas não para todas. Temos 23 espécies de cetáceos nos Açores e cada uma tem as suas particularidades", salvaguarda.

Segundo José Azevedo, os investigadores voltam a ver muitos animais em anos consecutivos, "o que quer dizer que são os mesmos animais que vão para sul e que regressam depois aos Açores e até à mesma ilha de onde saíram no ano anterior". Um trabalho de investigação sobre o golfinho de Risso concluiu que "há um grupo de animais que têm uma residência mais ou menos permanente, junto à ilha do Pico".

E há um golfinho bem conhecido em São Miguel: o "egípcio" é um roaz que tem uma barbatana triangular muito característica com a forma de uma pirâmide que é visto há vários anos ao largo da costa sul. *

*Leia a reportagem completa na edição impressa do Açoriano Oriental de 24 de Agosto de 2009.






Paula Gouveia

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