sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Intervenção do secretário regional da Presidência no seminário “Ciências da Comunicação”




Texto integral da intervenção do secretário regional da Presidência, André Bradford, proferida hoje, em Ponta Delgada, na sessão de abertura do seminário subordinado ao tema “Ciências da Comunicação”:

“Permitam-me que, antes de mais, comece por felicitar a Associação de Relações Públicas dos Açores pela realização deste Seminário, não só porque revela capacidade empreendedora e espírito de iniciativa – qualidades indispensáveis a uma sociedade civil que se queira dinâmica – mas também porque suscita um debate e uma reflexão indispensáveis às sociedades da comunicação em que vivemos.

Tendo eu próprio tido um trajecto académico e profissional relacionado com a temática deste Seminário - primeiro como estudante de Comunicação Social, depois como parte integrante de diferentes corpos redactoriais e mais tarde como Assessor de Imprensa, missão tão útil quanto ainda incompreendida -, este é um tema e um sector que me é naturalmente próximo e em relação ao qual, dada a posição institucional que ocupo agora, dedico ainda uma especial atenção, enquanto membro do Governo responsável pela política de comunicação social.

Sei, por isso, de saber de experiência feito, das dificuldades que enfrentam, ainda hoje, os profissionais do sector nas suas várias vertentes, do jornalismo à assessoria especializada, das relações públicas à comunicação empresarial ou ao marketing, um pouco por todo o lado e também nos Açores.

Dificuldades de inserção num mercado de trabalho pequeno e com pouca propensão para reconhecer a cada vez mais premente importância da comunicação enquanto veículo estratégico da prossecução dos objectivos das instituições ou das empresas.

Dificuldades de autonomização de funções e de valorização das competências específicas dos profissionais de comunicação, que umas vezes são tidos como propagandistas, outras como publicitários, outras ainda como mentirosos, mas raramente como veículos especializados de difusão de mensagens e de projecção da imagem pública, sem que isso tenha necessariamente uma conotação negativa ou uma base perversa.

Dificuldades ainda de reconhecimento do carácter científico da área do saber a que se convencionou chamar Ciências da Comunicação, que, muito embora tenha a sua sustentação teórica há muito consagrada, continua a sofrer mais do que todas as outras ciências sociais do pecado original da falta de rigor matemático e da ausência de fórmulas para poder ser considerada uma área científica sem mácula.

O paradoxo, porém, é que a comunicação é hoje, mais do que no passado - cada vez mais, há medida que as sociedades avançam - um objecto científico, que exige maior reflexão, e uma prática social indispensável a qualquer ramo de actividade ou a qualquer actor social.

Por isso, falar sobre, aprender ou exercer tarefas relacionadas com Comunicação em sentido lato, e em particular com a Comunicação Social, é, no mundo de hoje, um desafio crescente e constante, para todos os intervenientes no processo.

Desafio este que é fruto das mutações tecnológicas permanentes, da volatilidade dos públicos-alvo, da multiplicação e da concorrência entre meios difusores, e do ritmo incessante da informação que é produzida por uma variedade de actores - dos canais mais tradicionais às novas plataformas de comunicação, como os blogs ou as redes sociais.

Os números estão aí para comprovar a velocidade da mudança com que estamos todos confrontados: para atingir 50 milhões de utilizadores a Rádio precisou de esperar quase 40 anos; a Televisão levou 13 anos; a Internet esperou apenas quatro anos; o ipod 3; e o Facebook – a mais dinâmica das redes sociais actuais – chegou a 100 milhões de utilizadores – o dobro, portanto - em apenas nove meses.

Se parece inquestionável que os meios mais tradicionais de comunicação – Imprensa Escrita e Televisão – não perderam, nesse processo, o seu local central na comunicação mediada, também o é que só através da utilização cada vez mais frequente de plataformas tecnológicas e de mecanismos de comunicação mais específicos e direccionados (websites, fóruns online, entre outros) serão capazes de acompanhar as novas gerações e granjear aí utilizadores e leitores.

Um estudo da Microsoft, de Janeiro deste ano, sobre “O comportamento dos internautas europeus e as tendências de proliferação do uso e acesso à Internet no futuro” é elucidativo quanto a esta tendência. Esse trabalho revelou que:

· Em Portugal existem já mais de 4 milhões de utilizadores de Internet, que passam 34% do seu tempo online.

· Os utilizadores portugueses são dos que consomem mais tempo a visitar portais de internet (34%) e a comunicar através de aplicações de mensagens instantâneas (23%).

· Prevê-se que o consumo de Internet ultrapasse a TV tradicional já em Junho de 2010: com 2,5 dias por mês passados na Internet versus 2 dias passados a ver TV tradicional, o que significa uma mudança na forma de consumo e não um decréscimo de utilização da televisão ou do computador.

Em resumo, o estudo em causa aponta para o facto de todas estas alterações comportamentais terem dado origem a uma nova geração de utilizadores e de meios, advogando que, por esta razão, as estratégias de publicidade e promoção têm de mudar o foco de “uma audiência de milhões” para “milhões de audiências”, de forma a maximizar o retorno para os anunciantes.

Esta é uma conclusão que se poderia aplicar também à realidade regional da Comunicação Social nos Açores, com as devidas distâncias e os devidos condicionalismos.

As potencialidades trazidas pela era tecnológica da comunicação, nomeadamente em termos de público-alvo, podem servir para obviar a algumas das dificuldades inerentes a um mercado necessariamente pequeno e fragmentado, quer em termos de beneficiários da informação, quer em termos de investidores.

A modernização dos meios pode, de resto, permitir atingir uma audiência muito mais vasta e dispersa, alargando o mercado potencial da informação feita local ou regionalmente e daí trazendo também benefícios para as empresas. Refiro-me em particular às comunidades açorianas no mundo, sempre ávidas de informação actualizada sobre a Região e a sua actualidade.

A modernização tecnológica tem de resto sido um dos eixos fundamentais da nova política de apoios públicos à Comunicação Social Privada – enformada pelo PROMEDIA I e continuada pelo PROMEDIA II, aprovado em Maio último na Assembleia Legislativa Regional por proposta do Governo dos Açores, com o apoio de todos os partidos da oposição.

Como é sabido esta política de apoios representou um corte com o passado e com um sistema ineficaz, baseado na assunção generalizada e desresponsabilizadora de despesas inerentes à actividade empresarial e ao próprio risco a ela associado e que criou, em nossa opinião, uma perspectiva acomodada e desadequada ao fomento da racionalização e competitividade das empresas jornalísticas regionais face ao panorama actual.

O novo sistema de apoios permitiu incutir um espírito mais dinâmico na relação de atribuição de apoios, incentivando a capacidade de planeamento e de programação de investimento por parte dos vários agentes privados.

Mais: Tratando-se de uma área de actividade com uma sensibilidade muito própria, particularmente no que diz respeito ao relacionamento com os poderes públicos, exigia-se um ainda maior cuidado de modo a não desvirtuar a livre iniciativa que se deseja e a não condicionar, por via de uma excessiva dependência financeira corrente, a livre gestão empresarial e editorial.

Hoje o sistema é baseado em candidaturas, que são analisadas por uma comissão composta por cinco elementos, dos quais apenas um é indicado pelo Governo Regional, e os apoios concedidos são públicos e conhecidos.

Até hoje o PROMEDIA permitiu investir cerca de 1.500.00€ no apoio à modernização tecnológica, à formação e valorização profissional e à difusão dos órgãos de comunicação social privada da Região, com especial atenção para aqueles sedeados nas Ilhas da Coesão.

Na transição entre o PROMEDIA I e o PROMEDIA II, aumentamos em cerca de 20% o orçamento anual disponível para apoios – que é agora de 600 mil euros/ano -, mantivemos as categorias de apoio existentes, mas, em muitos casos, aumentamos a intensidade da comparticipação e inovamos na prestação de apoios.

A título de exemplo, na vertente da qualificação e valorização profissional, procurou-se incrementar a formação superior pós-licenciatura, estendendo-se os apoios concedidos, que já abrangiam as deslocações aéreas em território nacional e 50% do valor da inscrição, à comparticipação de 25% do montante das respectivas propinas.

Neste contexto também, o Governo apoia a fundo perdido a vinda de formadores à Região, suportando também 50% dos respectivos honorários, enquanto que no caso da realização de acções de formação profissional promovidas nas Ilhas da Coesão, o apoio previsto passa a sofrer uma majoração para os 75%.

E, por fim, criou-se também um novo apoio para a realização de iniciativas de interesse regional relevante como mecanismo potenciador da promoção dos Açores e das suas temáticas, envolvendo agentes locais e agentes externos ligados à área da comunicação social.

Apesar de ser sempre passível de críticas e melhorias, compete-me alertar para as potencialidades do sistema que ainda não foram suficientemente aproveitadas pelas empresas e pelos profissionais do sector, nomeadamente em termos da formação e valorização profissional ou na realização de seminários ou iniciativas como esta em que nos encontramos hoje.

No Século XIX, o poeta americano Henry David Thoreau afirmava, a propósito do telégrafo, “Estamos numa azáfama para construirmos um telégrafo magnético entre o Maine e o Texas, mas, que eu saiba, o Maine e o Texas não têm nada de muito importante a comunicar”.

Ou seja, e ao contrário de MacLuhan, eu arriscaria dizer que o meio não é toda a mensagem e que a questão essencial continua a ser a do conteúdo e da respectiva contextualização social.

A pluralidade de meios não assegura por si só a eficácia do discurso, entendido este – em sentido estruturalista, se quiserem – como a narrativa do real.

É por isso que aos profissionais da comunicação se impõe também um imperativo ético e de responsabilidade social que é particularmente relevante nos tempos que correm, tempos em que todos aqueles que quiserem comunicam para audiências muito vastas e indeterminadas; tempos em que tudo é passível de ser massivamente comunicado em tempo real; tempos em que o que não é divulgado e aturadamente promovido, pura e simplesmente não existe e em que tudo o que é mal ou ineficientemente trabalhado em termos comunicacionais passa a ser o que parece e nunca volta a ser o que é realmente.

Neste como noutros campos de actividade, os Açores fizeram um importante esforço de qualificação profissional. Compete-nos agora – a todos, poderes públicos e iniciativa privada – fazer com que não tenha sido um esforço vão.

Votos de bom trabalho ao longo do dia e, mais uma vez, parabéns pela iniciativa.

Muito obrigado”



GaCS/LFC

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