segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Projecto multimédia da pesca industrial no Brasil apresentado nos Açores



A partir de manhã e até ao dia 20 de Novembro, a jornalista brasileira Sheila Ana Calgaro apresenta, nas Ilhas Terceira, Pico e Faial, um projecto multimédia sobre a pesca industrial brasileira.

O projecto que vai ser apresentado, constituído por uma obra literária, um filme e uma exposição de fotografia sobre a pesca industrial no Brasil , tem o apoio do Governo dos Açores, através da Direcção Regional das Comunidades e a colaboração das Bibliotecas Públicas e Arquivos Regionais de Angra do Heroísmo, João José da Graça, na Horta, Museu dos Baleeiros do Pico, blog Comunidades da RTP Açores e Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina.

Na Ilha Terceira, o evento é apresentado amanhã, pelas 18 horas, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo. No Faial, a mesma apresentação ocorre no dia 18, pelas 19 horas, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, e no Pico, no dia 19, pelas 21 horas, no Museu dos Baleeiros.

O projecto de Sheila Ana Calgaro, compreende o lançamento do livro “Vidas separadas pelo mar”, no qual a autora conta memórias e histórias de vidas de pessoas ligadas à pesca industrial de Santa Catarina, estado brasileiro com forte influência da cultura açoriana. Para além da obra literária, será apresentado o filme “Ciclo das Horas”, com 30 minutos de duração, onde o público poderá visualizar a rotina destes pescadores em mar e em terra e ouvir os seus relatos.

A terceira componente do trabalho que vai ser apresentado constitui-se de uma exposição de fotografia e extractos da obra literária.

Nos três eventos que se vão realizar, a jornalista brasileira proferirá uma palestra onde dará a conhecer a sua experiência na realização de todo o projecto que envolveu uma viagem de cinco dias em que acompanhou o trabalho de um grupo de dez pescadores em alto-mar. Após a sua intervenção Sheila Calgaro, espera que o debate que se seguirá seja uma forma de trocar experiências sobre a cultura pesqueira brasileira e açoriana.

O livro “Vidas separadas pelo mar” reúne diferentes histórias de vidas que ajudam a traçar um paralelo sobre os aspectos sócio-culturais dos embarcados e contar a trajectória da pesca industrial em Santa Catarina e no Brasil. Como protagonistas destas histórias podemos encontrar Pinta Preta, pescador português que trabalhou em embarcações ainda movidas a carvão e foi pioneiro em explorar os mares do extremo-sul do Brasil; Virgínia, cuja vida é dominada pela solidão em sua casa em convívio permanente com a espera do marido, ausente na faina da pesca; a memória de Ricardo, sobrevivente de um naufrágio, que ficou quatro dias à mercê do oceano; a tristeza de Salma Benta, ao perder três filhos para o mar; as mãos milagrosas da benzedeira Dona Lica a abençoar o Santa Luzia, que voltou com o porão cheio de peixe; e a intensa procura por emprego, enfrentada por Luiz Carlos, após abandonar a pesca para tentar uma vida em terra.

Todas estas histórias vivenciadas por Sheila Calgaro, durante cinco dias em alto-mar, na companhia de dez pescadores a bordo do barco Monkfish foi, segundo a jornalista brasileira “a maneira mais viva” que encontrou para trazer as suas “impressões e sensações ao texto meramente informativo”. O livro, que se divide em 14 capítulos, narra na primeira pessoa, a experiencia em alto-mar.

O filme documentário realça a actividade dos pescadores no mar enquanto apaixonados pelo trabalho ou a um emprego que carece da aplicação das leis trabalhistas. Em terra, eles são pais e maridos que dividem seu tempo entre partidas e reencontros, convivendo com a saudade e a ausência da família.

O documentário “Ciclo das Horas”, mostra os relatos destes pescadores industriais, acostumados à rotina de semanas no mar e poucos dias em terra, além de depoimentos dos filhos e das esposas que enfrentam a constante espera pelo retorno.

O filme, com direcção e roteiro de Sheila Ana Calgaro e com a produção de Simone Castro, fotografia e arte de Mederijohn Corumbá e montagem de Luciana Siebert, foi produzido de forma totalmente independente e revela exclusivamente as vidas dos pescadores e familiares do barco no qual a jornalista participou da viagem.

Para além do livro e do filme o projecto foi ampliado com uma exposição itinerante, com fotografias dos personagens entrevistados e extractos do livro. A exposição, com imagens do fotógrafo Elton de Souza, já percorreu espaços públicos e privados, em diversas cidades do litoral catarinense, além do Distrito Federal.

O livro de Sheila Calgaro já foi distribuído – 450 exemplares – em escolas públicas e particulares de algumas cidades do Litoral catarinense, além de pesquisadores de todo o Brasil, universidades e sindicatos da pesca. A autora explica o gesto: “Quero que este livro sirva como um projecto social e pedagógico, valorizando as histórias destes pescadores que, muitas vezes, não têm seu trabalho reconhecido”. Através de parcerias com professores de Itajaí, o trabalho de Sheila Calgaro é utilizado na sala de aula, para a promoção de palestras sobre a vida do pescador industrial. São “muitas as crianças e jovens que têm pescadores em suas famílias. Mostrar a importância das memórias destas pessoas é fundamental para que estes alunos também entendam a história da nossa cidade”, conclui.

Sheila Ana Calgaro nasceu em Itajaí (SC), no dia 20 de Agosto de 1985. Formou-se em Jornalismo pela Universidade do Vale do Itajaí em Julho de 2007 e, como Trabalho de Conclusão de Curso, apresentou o livro “Vidas separadas pelo mar”, com o qual conseguiu Lei Municipal de Incentivo à Cultura para publicá-lo. Já trabalhou nas áreas de rádio, televisão, impresso, assessoria de comunicação e cinema. Sempre gostou de trabalhar com histórias de vidas e a opção em escrever um livro garantiu a possibilidade de relatar as memórias de personagens “anónimos” de maneira mais literária e aprofundada.


GaCS/LFC

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