quinta-feira, 9 de abril de 2015

Portugal também tem muito a ganhar com potencial geoestratégico da Região, afirma Vasco Cordeiro

O Presidente do Governo defendeu hoje que o País também tem muito a ganhar se, às funções históricas e diplomáticas com os EUA, em particular, assentes na longa presença do contingente militar norte-americano na ilha Terceira, se acrescentarem outras valências que permitam retirar todo o potencial geoestratégico que os Açores apresentam.

“A história dos Açores cruza-se, não raras vezes, com a história dos interesses no Atlântico Norte, sejam estes económicos, comerciais ou militares”, salientou Vasco Cordeiro, que falava na sessão de abertura da quarta edição do Fórum Açoriano Franklin D. Roosevelt, uma iniciativa do Governo dos Açores e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, que está a decorrer nas Lajes do Pico.

Segundo disse, se, no passado, a importância geoestratégica dos Açores assentou numa conceção de base territorialista - preventiva do uso das ilhas por outros ou facilitadora da projeção de forças para vários teatros de operações - atualmente essa conceção pode ser reforçada com as novas fronteiras do conhecimento do Mar, com a exploração dos recursos e com a potenciação de parcerias e alianças que vão além da vertente exclusivamente militar.

Nesse sentido, o Presidente do Governo destacou a importância do Mar dos Açores que alarga as fronteiras do espaço comunitário até próximo do continente americano, uma relevância que é “tanto mais significativa se atentarmos, por exemplo, ao processo em curso de alargamento do Canal do Panamá, que conduzirá a um previsível aumento do tráfego marítimo internacional nesta zona do Atlântico”.

“A história nesta parte do globo poderá ser redesenhada muito em breve, também através das negociações em curso entre a União Europeia e os Estados Unidos para o estabelecimento da Parceria de Comércio e Investimento Transatlântico, incrementando ainda mais as trocas entre estes dois blocos comerciais mundiais”, destacou Vasco Cordeiro.

O Presidente do Governo lembrou, por outro lado, que é a partir do Mar dos Açores que têm sido conduzidos os projetos da Extensão da Plataforma Continental Portuguesa, um processo vai determinar um novo mapa das soberanias e o aparecimento de um novo paradigma de Gestão Estratégica do Mar, fatores decisivos e estratégicos para o desenvolvimento sustentável e económico da Região, para o posicionamento internacional de Portugal e para a sua afirmação enquanto potência marítima de vocação mundial.

“Nessa estratégia devem ainda ser devidamente ponderadas ações que permitam a valorização do nosso Espaço Marítimo Atlântico, a exploração dos recursos de uma forma sustentável, a sua proteção face a ameaças exteriores, assim como o estímulo à investigação e ao conhecimento sobre os solos marinhos e os recursos que deles podem ser extraídos”, preconizou Vasco Cordeiro.

De acordo com o Presidente do Governo, este conjunto de novas realidades e evidências reafirma a centralidade da Região Autónoma dos Açores na interseção entre a Europa e os EUA e o seu potencial para funcionar como fronteira, como ponto de apoio ou mesmo como centro de funções de interesse transatlântico.

Na sua intervenção, o Presidente do Governo alertou, porém, que a multiplicidade de ligações entre os Açores e os EUA não pode constituir uma forma de menorizar a importância da questão concreta e específica da Base das Lajes e da intenção norte-americana de reduzir substancialmente a sua presença, com as consequências económicas, sociais, ambientais e diplomáticas que tal processo acarreta.

“A riqueza do relacionamento entre os Estados Unidos da América e Portugal, a riqueza das ligações que existem entre os EUA e os Açores, reside, desde logo, no facto das suas várias componentes não serem estanques”, frisou Vasco Cordeiro.

“Não é possível, em boa-fé, esperar, e muito menos dizer, que intenção norte-americana anunciada a 8 de janeiro, quer na sua forma, quer na sua substância, não terá impacto na totalidade dessa relação”, afirmou o Presidente do Governo, para quem isso seria “enganarmo-nos a nós próprios e àqueles que, por nosso intermédio, poderão ajuizar sobre o mérito ou demérito das nossas pretensões”.

Depois de salientar que os tempos são exigentes no que respeita ao compromisso com a verdade, a lealdade e o respeito mútuo que enformam a histórica relação entre os EUA e Portugal e os Açores, Vasco Cordeiro manifestou-se convicto de que com esses “mesmos valores, e também com firmeza e trabalho, será possível ultrapassar este momento de tensão e desafio à solidez dessa relação”.

“Da parte do Governo dos Açores, da minha parte como Presidente do Governo dos Açores, é isso que, em qualquer uma das margens do Atlântico, podem esperar”, assegurou.

Com uma regularidade bienal, o Fórum Açoriano Franklin D. Roosevelt reúne políticos e académicos de ambos os lados dos Atlântico para a análise dos principais desafios que se colocam no âmbito da relação transatlântica.

Esta quarta edição, subordinada ao tema ‘Açores e EUA: Estratégias de Desenvolvimento Sustentável’, tem painéis dedicados à educação e investigação, às oportunidades de investimento, às exportações para os EUA, às novas oportunidades da exploração do Mar e ao turismo sustentável.

O Fórum Açoriano Franklin D. Roosevelt já se realizou em São Miguel, em 2008, na Terceira, em 2010, e no Faial, em 2012.

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