O professor e músico açoriano Rafael Carvalho além de aulas presenciais recorre à Internet para ensinar a tocar viola da terra, um instrumento típico dos Açores, cujo interesse ressurgiu nos últimos anos na ilha de São Miguel.
«A partir de 2009 foi quando comecei a colocar vídeos de várias peças tradicionais no Youtube. É uma gravação doméstica», disse Rafael Carvalho, acrescentando que os vídeos são «muito vistos», sobretudo, no Brasil, Estados Unidos da América e Canadá.
O músico, que aprendeu a tocar viola da terra em 1994 observando o mestre Carlos Quental, lança esta quinta-feira o livro «Método para viola da terra-iniciação», em Ponta Delgada, com o objectivo de ensinar «de forma estruturada» outras pessoas.
«A grande falta neste momento no mercado era a de um método para iniciação. Um método que explique não só a colocação dos dedos, mas também que vá começando com as partituras e linguagem musical», referiu.
Rafael Carvalho explicou que todas as partituras presentes no livro, que resulta de cinco anos de leccionação no Conservatório Regional de Ponta Delgada com a classe de iniciação à viola da terra, podem ser visualizadas, por telemóvel ou no Youtube.
«Aprendi vendo outros a tocar, por imitação. Não foi por partituras. Agora o nosso trabalho é desmistificar. Este material não é só para ser usado no Conservatório, por alunos pequenos de 6/7 anos, mas também por todas as pessoas que queiram ter um primeiro contacto com a música escrita e vão apreendendo gradualmente uma nota de cada vez», disse o músico.
Além do Conservatório Regional de Ponta Delgada, na ilha de S. Miguel existem aulas presenciais de viola da Terra na Ribeira Quente, Fajã de Baixo e Arrifes, frequentada por pessoas de várias idades.
Rafael Carvalho é também responsável e director musical da Orquestra de Violas da Terra formada em Fevereiro de 2011, que tem reunido anualmente no Teatro Micaelense para formação e actuação.
«Tentamos juntar as pessoas uma vez por ano na Orquestra de Violas da Terra e isso é importante. Vemos o que cada escola está a fazer», afirmou Rafael Carvalho, acrescentando que começaram com 23 músicos e o ano passado já eram 44.
Assegurando que o interesse pela viola da terra renasceu nos últimos anos, Rafael Carvalho adiantou que o próximo encontro da Orquestra de Violas da Terra vai decorrer no Teatro Micaelense a 8 e 9 de Fevereiro.
A viola da terra tem sido, desde o povoamento do arquipélago, o grande instrumento de união social, assumindo um lugar de destaque nos festejos, bailes, cantorias e serões, ainda que tenha um papel diferente de acordo com as características próprias de cada comunidade.
A viola da terra, também conhecida como viola de arame ou viola de dois corações, é um instrumento semelhante ao violão, mas de dimensões mais pequenas.
Uma das suas características é a existência de dois corações, com as pontas em sentidos opostos ligados por um coração mais pequeno, em vez do buraco existente no tampo.
Este instrumento musical possui cinco parcelas de 12 cordas, sendo afinado do mais agudo para o mais grave nas ilhas dos grupos Central e Ocidental, enquanto no grupo Oriental dos Açores a afinação é feita num tom mais baixo.
No passado, a viola da terra fazia parte do dote do noivo e o seu lugar na casa durante o dia era em cima de uma colcha axadrezada, como adorno do quarto do casal.
Fonte: Cafeportugal.net
Sem comentários:
Enviar um comentário