sábado, 8 de setembro de 2012

Intervenção do Presidente do Governo dos Açores (com embargo até às 17H00)


Intervenção na íntegra do Presidente do Governo dos Açores na cerimónia de inauguração do Angra Marina Hotel:

“Quero, em primeiro lugar, agradecer o convite dos promotores deste investimento para presidir a este ato simbólico que assinala a inauguração do Angra Marina Hotel.

Faço-o com muita satisfação, pois trata-se de um empreendimento que muito valoriza a atratividade turística na cidade de Angra e na ilha Terceira e que reforça um dos setores económicos de maior potencial nos Açores.

Conhecidos os constrangimentos da atual conjuntura económica nacional e internacional, à qual os Açores não estão imunes, a aposta no segmento do turismo e o surgimento de projetos empresariais neste setor prometedor representam um importante sinal de confiança no presente e no futuro.

Este novo hotel, o primeiro de cinco estrelas dos Açores, assinala uma evolução importante na qualidade e diversificação da oferta hoteleira da Região, não apenas pela sua classificação, mas também pelas valências inovadoras do projeto e a excelência da sua localização, que suscitarão, certamente, a atração de novos e exigentes segmentos do mercado.

Foi com essa perceção que entendemos este empreendimento. A atribuição a este investimento da classificação de Projeto de Interesse Regional é, pelo lado da administração regional, o reconhecimento público da sua relevância para a economia local e do efeito estruturante no desenvolvimento do turismo e da notoriedade do destino Açores. Trata-se, igualmente, de um bom exemplo da cooperação entre empresários e Governo, em que se potencia, através dos incentivos públicos existentes, o investimento na Região, neste caso com o concurso de capitais exteriores, revelando a confiança dos empreendedores.

Com as suas cento e trinta unidades de alojamento, em que se incluem 24 residências medicalizadas, o Angra Marina Hotel oferece um conjunto de serviços complementares que o diferenciam, seja na área da saúde seja na oferta dos serviços de restaurante, bar e espaço para eventos.

Estamos convencidos de que na área do turismo há muito a fazer e muito para investir, não só na vertente mais discutida da redução dos custos associados e da melhoria da mobilidade em que temos feito progressos, como na especialização e diversificação da oferta e ocupação dos visitantes. São bons desafios para o setor privado, sobretudo se este puder contar com uma maior recuperação do setor bancário na alavancagem da economia empresarial e no apoio aos investidores. Esses constrangimentos da banca são, aliás, o maior problema com que a economia privada se está a defrontar na Região e no País, acrescido, evidentemente, no caso da economia turística, das crises de emprego e rendimentos em alguns dos mercados, designadamente europeus, tradicionalmente emissores de fluxos turísticos.

Há, sem dúvida, muitos aspetos cuja evolução nem os empresários nem o Governo nos Açores podem controlar ou inverter, mas tem de haver motivos de esperança e de melhoria.

Todos continuamos expectantes, mas justificadamente impacientes, com a passividade das instituições europeias na tomada de medidas para a ultrapassagem da crise económica e financeira no espaço da União. Todos esperamos que a decisão desta semana, ainda que tardia, do Banco Central Europeu, de adoção de um programa para a aquisição de obrigações de países da zona euro no mercado secundário de dívida soberana, contribua não só para obviar à especulação financeira que penaliza os mercados como seja um sinal, no âmbito da união financeira, para outras entidades, como a Comissão e o Conselho Europeu, para abandonarem o torpor em que estão mergulhados que prejudica drasticamente a competitividade, a viabilidade e a coesão europeias. Estou confiante na inevitabilidade de, a curto prazo, a Europa assumir o seu destino de se constituir como uma verdadeira união, em todas as dimensões de que depende o seu fortalecimento democrático e a sua sustentabilidade no plano internacional.

É também incompreensível que, no nosso país, a par das preocupações da gestão orçamental – onde, infelizmente, e ao contrário do que acontece nos Açores, a incapacidade previsional e a degradação do défice e da dívida na administração central acentuaram-se grosseiramente –, é incompreensível, dizia, que não seja rapidamente acordado, nos âmbitos de negociação e contratação adequados, um plano, envolvendo a banca, de financiamento do investimento privado em todo o país. É impossível o Governo de Lisboa continuar a descurar por mais tempo esse aspeto, cujo mau funcionamento está a destruir muito investimento e boas empresas, tal como empresas em dificuldade mas com viabilidade.

É, também, nesses contextos, europeu e nacional, que queremos ver uma recuperação global, que nos beneficiará nos Açores e que não está à nossa escala e dimensão regionais, infelizmente, ultrapassar isoladamente com eficácia e com bons resultados.

O que é certo é que não é com mais e mais pobreza entre as pessoas que resolveremos, quer os problemas orçamentais, quer, ainda menos, os de crescimento com que nos confrontamos de forma cada vez mais lesiva.

As decisões ontem comunicadas pelo Primeiro-Ministro, que mantêm no próximo ano a diminuição dos rendimentos dos reformados e dos pensionistas e dos funcionários públicos, e até os agravam por aumento previsível da incidência fiscal, e que retiram agora, na prática, aos trabalhadores do setor privado o valor de um ordenado por ano, aumentarão os problemas sociais, o desânimo, a quebra do consumo interno e terão um efeito fortemente recessivo na economia – as consequências serão, a meu ver, muito piores para as pequenas e médias empresas do que os ganhos resultantes da diminuição das suas contribuições para a segurança social.

Acresce que, na modalidade agora adotada pelo Governo central, as regiões dos Açores e da Madeira serão mais uma vez verdadeiramente espoliadas. No nosso caso, sairão das remunerações dos trabalhadores açorianos, que é como quem diz da economia da Região, perto de 75 milhões de euros para os cofres do orçamento do Estado e da segurança social, vinte e cinco milhões dos quais eram pagamentos da administração regional aos seus funcionários. Espero que, se tais medidas forem por diante, os partidos na Região, que tanto veneram o atual Governo da República, se juntem aos que pensam e defendem em primeiro lugar os Açores para evitar esse esbulho que nos pretendem fazer e que nos prejudicará a todos.

Senhoras e Senhores

Quero dizer-vos, todavia, que acredito no sucesso e nos benefícios da atividade turística nos Açores.

A melhoria considerável da oferta dos vários tipos de alojamentos e das acessibilidades, verificada nos últimos anos, colocou os Açores no mapa turístico nacional e no mercado internacional e estimulou o governo e os agentes do setor para um trabalho conjunto com resultados que são muito satisfatórios. Há, no entanto, como disse, muito a fazer em todos os outros aspetos envolventes, sendo certo, porém, que, há pouco mais do que uma década, o turismo era um setor sem perspetivas nos Açores e completamente residual no contexto económico regional. Estamos, portanto, enfrentando desafios numa área historicamente emergente na economia das nossas ilhas.

Mesmo assim, já obtivemos ganhos, não só no número de dormidas face a anos atrás, como na renovação e diversificação de mercados que hoje é tarefa indispensável para recuperar esse crescimento. Basta dizer que os Açores já estiveram, no passado, dependentes em 71% das dormidas do mercado interno, e que essa situação foi agora completamente invertida para os diferentes mercados externos. Hoje, estamos ligados diretamente a mercados como a Dinamarca, a Suécia, a Alemanha (com 3 “gateways”), o Reino Unido, a Holanda, a Bélgica e a Espanha, para além dos Estados Unidos e do Canadá. Diversificámos a procura, tornámo-nos menos dependentes do mercado nacional, qualificámos a oferta e temos de continuar a incentivar a animação turística.

Fizemos já um caminho, mas temos a consciência do muito que falta percorrer para nos inserirmos eficientemente nas tendências do mercado e atingirmos níveis de maturidade nesta atividade que é muito recente entre nós.

Já depois da instalação do primeiro governo regional, os Açores permaneceram injustificadamente fechados face ao exterior em termos de acessibilidades como em termos económicos. Essa circunstância trouxe-nos ainda maiores atrasos. Estamos, pois, ainda, numa fase de afirmação do nosso estatuto de região turística, mas hoje somos, progressivamente, mais conhecidos no exterior e já são em maior número os operadores turísticos que nos procuram.

Temos, assim, de continuar este caminho traçado nestes últimos anos.

Estou confiante na capacidade de sucesso da parceria entre os nossos investidores e o nosso governo.

Os meus parabéns aos promotores deste Angra Marina Hotel e os votos dos maiores sucessos. Os sucessos dos que investem nos Açores são sucessos para todos os açorianos.

Obrigado”.



GaCS

Sem comentários: