domingo, 6 de fevereiro de 2011

Intervenção do Presidente do Governo na inauguração das obras de qualificação urbanística e paisagística do Museu da Indústria Baleeira




Texto integral da intervenção do Presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, proferida hoje, na cerimónia de inauguração das obras de qualificação urbanística e paisagística do Museu da Indústria Baleeira, em S. Roque do Pico:

"Uma pequena intervenção, para registar mais este momento concretizador nesta ilha do Pico – desta vez reportado ao Museu da Ilha.

A nova museologia, que preconiza o entrosamento entre os diversos parceiros sociais para uma verdadeira dinâmica social e cultural, aponta muito claramente o caminho a seguir ao legitimar o papel interventor dos museus. Nesta perspectiva museológica moderna, os museus devem constituir-se como um espaço de lazer e de entretenimento público, como um sistema de comunicação com aqueles que o frequentam, um ambiente pedagógico onde se transmitem e adquirem conhecimentos diversificados de forma orientada e sistemática. Os museus são igualmente espaços de investigação científica e de criação cultural, repositórios de materiais de valor patrimonial elevado, e lugares vocacionados para a sua conservação a longo prazo.

Uma terra sem museu pode ser perigosamente confundida com uma terra sem história – essa é, aliás, uma boa razão para investirmos mais nessas instituições em algumas das nossas ilhas onde a dimensão e o valor da sua história bem o justifica.

Por tudo aquilo que representa, o Museu do Pico tem vindo progressivamente a assumir-se como um instrumento estratégico de valorização do património cultural da ilha do Pico, colaborando, decisivamente, em parceria com as mais diversas entidades públicas e privadas, na construção dessa identidade que é, com bem se sabe, tão associada aos históricos ciclos regionais da baleação e da vitivinicultura.

Os três pólos do Museu do Pico, marcados por uma arquitectura singular e auto-referente amplamente reconhecida no espaço nacional e internacional, são o resultado bem sucedido de musealizações de sítio, facto que confere a estes museus uma forte matriz identitária e um excepcional poder de atracção no panorama museológico da Região.

As obras de valorização urbanística e paisagística do Museu da Indústria Baleeira, que agora inauguramos, inscrevem-se numa política cultural mais vasta, que tornou possível proceder, nos últimos anos, à requalificação e modernização dos equipamentos culturais – designadamente Museus e Bibliotecas – e ao crescimento e consolidação das dinâmicas patrimoniais e museológicas na Região. O investimento que mantemos nestes sectores é um factor de qualificação da governação açoriana, mas é também uma resposta a necessidades de salvaguarda de um património disperso pelas ilhas e de iniciativas que não teriam desenvolvimento sem apoios públicos. Mesmo em tempo de restrições financeiras é importante não romper com estas matrizes das políticas públicas.

Este compromisso cultural tem tido, igualmente, a sua expressão na ilha do Pico. Neste momento, decorrem, no Museu do Vinho, na Vila da Madalena, as obras de reconversão museológica daquele equipamento cultural, que se juntam às intervenções de conservação e restauro dos edifícios previamente realizadas. Este projecto de museografia visa a instalação da primeira exposição de longa duração no Museu do Vinho. Em fase de aprovação do estudo prévio encontra-se o projecto de construção de um Auditório no Museu dos Baleeiros, nas Lajes do Pico, cuja empreitada desejamos lançar a concurso ainda no corrente ano.

A intervenção levada a cabo no Museu da Indústria Baleeira, com a recuperação e reconversão dos edifícios da carpintaria, da tornearia-fundição, da tenda de ferreiro, do armazém de combustíveis e da garagem da camioneta – para fins museológicos, de exposição temporária, de reservas e de oficina – permitiu qualificar estas estruturas e fornecer ao Museu do Pico novas e mais adequadas ferramentas de trabalho. Esta iniciativa contou igualmente com a reabilitação paisagística de todo o logradouro interior, numa operação bem sucedida de enquadramento e atractividade desta infra-estrutura.

Esta reabilitação patrimonial deve igualmente ser entendida, para além da sua dimensão funcional e utilitária, como um exercício de cumplicidade e de coerência entre a herança e a inovação, entre a tradição e a modernidade. Assim, foi possível, preservando "o espírito do lugar", proceder, através de uma inventiva arquitectónica de "bom senso e de bom gosto", à reformulação dos espaços e do tecido edificado existentes.

A instalação de um memorial na grande praça interior da Fábrica, convocando o imaginário da indústria baleeira insular e homenageando todos os homens e mulheres, actores anónimos, que fizeram parte da saga da baleação açoriana, figura como outro bom exemplo neste diálogo arquitectónico, confere ao espaço um carácter original e constitui-se como um elemento singular e diferenciador de todo o tecido edificado.

Ao promover, neste contexto, a realização desta exposição de fotografia sobre a antiga Fábrica da Baleia de São Roque do Pico, Armações Baleeiras Reunidas, Lda. – actual Museu da Indústria Baleeira – o Museu do Pico estimulou, revisitando e convocando a história, a reabilitação da memória em torno daquele que foi o maior e o mais importante complexo fabril e industrial baleeiro dos Açores.

Fico, pois, muito satisfeito, por, assinalando a conclusão de importantes trabalhos de requalificação, estarmos simultaneamente a verificar e a prever outros que se inserem no desígnio estratégico que seleccionámos para os equipamentos museológicos da ilha.
Parabéns a todos."


GaCS/CT

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